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quarta-feira, 24 de junho de 2009

CONTOS DE SONHAR SEM FIM / 2009 - V

NEUZA MACHADO

5 - A MONTANHA OCA, A LARGA RODOVIA E O MAGO-OURIVES
NEUZA MACHADO

Eis o sonho:

Eu estava em uma casa, no campo, em visita à minha prima (Nelci), nos arredores da Cidade de Divino do Carangola, em Minas Gerais. Entretanto, a casa não era a mesma residência de minha prima (aquela que conheço). O lugar era diferente, mas, no sonho, a minha prima era a proprietária das terras e do casarão.

No auge do que me lembro, eu já estava de saída e me despedindo. Pois foi a partir da despedida, com abraços e promessas de breve retorno, que descortinei o cenário do sonho. As terras e o casarão ficavam em um lugar plano (totalmente diferente do lugar em que a minha prima mora), mas (ainda no sonho), repleto de flores e arbustos muito verdes, onde se localizavam alguns animais. Em algum flash do sonho, minha prima acompanhou-me até ao portãozinho, que ficava em frente à sua casa. O terreno, que comportava o casarão, era todo cercado por arame liso (uma cerca baixa), entrelaçado com vegetação florida. Em frente, existia um caminho estreito, de roça, rente a uma montanha. Explicando melhor, as terras campestres e o casarão do sonho se localizavam na base da montanha. Ao longe, em um plano superior, em ângulo para a minha direita, visualizei um trecho de uma grande rodovia de muito movimento, na parte de cima da dita montanha. Muito ao longe (ainda, em ângulo para a minha direita), detectei um ônibus em movimento, vindo à minha direção. Eu o visualizava bem pequenininho, por causa da distância. Entretanto, muitos carros passavam em disparada, na rodovia, na parte superior da montanha. Lembro-me de que, no sonho, falei para a minha prima: “Não conseguirei chegar até a estrada, para parar o ônibus. O caminho até ao alto é muito íngreme”. Mesmo falando, no sonho, eu via um caminho estreito, serpenteante, oblíquo, em direção à estrada. Foi aí que a minha prima respondeu-me: “Você não precisa ir por aquele caminho. Passe por dentro da montanha. Dentro dela existe uma saída que vai dar na estrada, aí em cima”.

Despedi-me às pressas de minha prima e entrei em um grande orifício da montanha (uma espécie de portal rudimentar), o qual ficava bem defronte ao portão de entrada do casarão, em busca do caminho até à estrada. E a minha surpresa, mesmo sonhando, foi imensurável!

Nessa etapa do sonho, vi-me dentro de uma extraordinária cavidade. A montanha era totalmente oca. E, ali, existia uma movimentação febril. Era como se fosse uma Grande Cidade, com pessoas andando de um lado para o outro. Alguns trabalhadores escavavam-na, dirigindo poderosas escavadeiras motorizadas. E usavam capacetes para proteger as cabeças. E o lugar era mesmo uma montanha interiormente esburacada, com reentrâncias nas paredes escarpadas, e muito pedregulho nas laterais. E aquela agitação toda não se harmonizava, em absoluto, com o início do sonho, vivenciado em um ambiente campestre.

Em meio ao burburinho, procurei sofregamente o caminho de saída para a estrada, pois, pela minha perspectiva sonambúlica, o ônibus almejado já estava próximo. Foi então que avistei o tal caminho.

O trajeto, dentro da montanha, se direcionava em sinuosidade até a uma pequena fenda, no alto, em ângulo para a minha esquerda. Pela base, começava largo e, ao longo das reentrâncias, se ia afunilando, até chegar à abertura, no ponto mais elevado. No reduzido orifício de saída se percebia uma difusa luminosidade, como se fossem raios de sol. Muitas pessoas - homens, mulheres, adolescentes e crianças - caminhavam, subindo em ziguezague, a direção da minúscula abertura. Ansiosa, entrei no cortejo. E, de repente, incomuns obstáculos começaram a se desenvolver.

Inicialmente, comecei a caminhar com tranqüilidade, conversando animadamente com uma jovem e um menino de uns cinco anos, mais ou menos. Ao longo da caminhada, comecei a sentir cansaço, respirava com sofreguidão, pois a subida começava a se tornar difícil. Em um dado momento, o caminho desapareceu, pois, para retomá-lo, havia a necessidade de escalar uma pequena escarpa, evidentemente em aclive e verticalmente. Muitas pessoas, à minha frente, já estavam realizando a proeza, mas, quando chegou a minha vez, percebi que a jovem e o menino não estavam conseguindo escalar o atalho, repleto de pedregulhos e terra solta. Vi-me ajudando-os. Primeiramente, empurrei a jovem para o alto e, rapidamente, ela se pôs a caminhar, acompanhando os outros. Depois, fui ajudar o menino. Aí, tudo se complicou, porque ele pesava muito. Eu me sentia cansada, respirava com muita força e meus braços doíam, na ânsia de empurrá-lo para cima. Até que ele conseguiu e se foi, sumindo de minha visão. Não sei como, milagrosamente, eu também consegui escalar o pequeno atalho. Fiz muito esforço (disso me lembro bem), pendurando-me nas fendas da parede de pedra, até alcançar a pequena trilha. E me vi caminhando, em meio a muitas pessoas, já descansada, em direção àquela luz do orifício, à saída da montanha, pelo alto, para a estrada de rodagem.

Quase na saída, no pedacinho iluminado pelo sol, percebi o chão de terra fina e fofa. Naquela macia camada de terra, alcancei vislumbrar pequeninas jóias de ouro - anéis, brincos, camafeus e, inclusive, pedrinhas brilhantes -, faiscantes, graças à luz que entrava no orifício, mas, só eu as via, os outros caminheiros passavam com as cabeças erguidas, sem olhar para o chão. Entretanto, não toquei em nenhuma jóia, somente as admirava, enquanto caminhava. E nesse momento do sonho, já não conversava com os outros caminhantes.

Relembrando o sonho, depois desses anos todos, tenho a convicção de que me encontrei em apuros para sair da montanha. O orifício era muito estreito e tive de estirar-me ao chão, como uma lagarta, ansiosa por ver-me à luz do dia. O mais interessante é que os outros saíram normalmente, o que não foi o meu caso. Mas, ao sair, deparei-me com uma estrada magnífica, ultramoderna, larga e movimentada. E vislumbrei, ainda longe, bem distante, o mencionado ônibus, o qual, certamente, me levaria a algum lugar.

Contudo, ao sair da montanha, vi um homem louro, cabelo meio comprido, a se parecer com um pajem antigo, sentado em um tamborete, cinzelando as tais jóias que foram vistas anteriormente. Ele estava de costas para a tal saída da montanha e, logo que terminava uma peça, jogava-a na fenda, displicentemente. O ourives possuía uma aparência medieval e usava um macacão dessa época. Na verdade, hoje, posso afirmar que ele se parecia com o Mago do Tarô Tradicional. Em meu sonho, o ourives continuou com a cabeça inclinada para baixo, trabalhando diligentemente, e não me olhou, não se surpreendeu com a minha presença. Parecia não fazer parte daquele lugar.

Finalizando, o ônibus chegou em tempo, para que eu pudesse nele viajar. E eu entrei nele. E, com certeza, o sonho continuou, mas, não me recordo do que aconteceu depois.

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