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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

RIO DE JANEIRO, 04 DE NOVEMBRO DE 2001: EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO

NEUZA MACHADO








EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO

NEUZA MACHADO







RIO DE JANEIRO, 04 DE NOVEMBRO DE 2001


Meus amigos do Futuro, conforme o prometido, eis-me aqui novamente. No momento exato em que começo esta minha cartinha, neste 04 de Novembro de 2001, na Cidade Cariocjônia do Rio de Janeiro, o relógio digital de meu telefone celular marca vinte e uma hora e trinta minutos. Relógios digitais, telefones celulares, microondas [um forno (incrível invenção!) que cozinha os alimentos em questão de segundos], computador, et cœtera, etc, serão, no Futuro Sem-Muro, aparelhos fora de moda, porque, certamente, vocês já terão inventado objetos similares mais sofisticados, e, alguns de vocês, buscando informações desta minha realidade temporal, acharão muita graça de nossas invenções ultrapassadas.

Entretanto, neste exato momento, são vinte e duas horas e cinco minutos – horário de Verão no Brasil Varonil – e eu estou, aqui, a cogitar, selecionando os acontecimentos do dia, ansiosa por enviar-lhes notícias interessantes.

Diferente dos outros domingos, hoje, o Sol hipercariocjônio não iluminou a Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro, neste mês de novembro de 2001. Choveu o dia todo. É noite e, ainda, chove na minha Terra ainda abençoada por Deus. Espero que chova bastante perto das grandes Usinas Hidroelétricas, para que a luz volte a reinar em nosso cotidiano, o qual, no momento, se encontra sem muitas perspectivas iluminadas.

Meus amigos, como já lhes disse, em uma outra cartinha, estamos vivendo uma situação de economia de luz. Desde o mês de junho de 2001, economizamos luz elétrica, para que não ocorra o apagão, ou melhor, a falta de luz nos lares, a escuridão total. É bem verdade que a megalópole cariocjônia continua iluminada: os prédios públicos, os letreiros luminosos, as ricas mansões dos bilhardários, os belos cumes de minha Polis, repletos de luzinhas elétricas, e muitos outros locais, permanecem, continuamente, iluminados. Na verdade, apenas a classe pobre – a antiga classe média – foi obrigada a fazer economia. Existe uma quota prevista para os assinalados do Destino (e eu me encontro entre esses assinalados). A base da tal quota foi elaborada a partir do gasto de eletricidade, de cada residência, ocorrido no mês de junho de 2000. Por exemplo, se a quota foi pequena no tal mês, os assinalados do Destino só poderão gastar aquele percentual, todos os meses, até que o governo do FHC determine o fim da economia. Ocorre que os Privilegiados da Sorte – haja Sorte! – gastaram bastante, no tal mês de junho de 2000, e, já que desperdiçaram muita luz, os Tais poderão usufruir a luz elétrica sem grandes sacrifícios; bastarão desligar alguns condicionadores de ar e tudo estará resolvido. Os pobres que se arranjem e façam economia! Mas, graças a Deus!, o tempo interstício está ameno e o calor abrasador ainda não fez a sua entrada triunfal no Rio de Janeiro. Só não sei o que faremos quando o Caloroso Sol Flamejante vier nos visitar. Como agraciá-lo com a nossa amável acolhida, se não recebermos, daqui a um mês, autorização para ligar nossos humildes ventiladores?

Oh! Meus Amados do Futuro! Estou aqui a me preocupar com a possibilidade de um apagão, enquanto milhares e milhares de seres humanos, inclusive no Brasil, neste 2001 (pesquisem!), não têm o que comer. A Guerra continua no mundo. As doenças continuam. Os deserdados da sorte estão morrendo à míngua. As crianças de algumas regiões do Oriente Médio vão sendo treinadas para a Guerra e já manejam armas mortíferas. As crianças da região de conflito do Oriente Médio não receberam permissão para sonhar com o Futuro Sem-Muro radioso. Não saberão como escrever suas cartinhas para os Homens do Futuro. Não conseguirão, jamais, imaginar a possibilidade de conforto para as Crianças do Futuro. O Futuro não existe para esses infelizes pequeninos do Oriente Médio. Existe a Guerra. São crianças e não brincam como crianças; passam fome e sede (a água é escassa), não têm nenhuma esperança e não sonham com dias felizes. E eu, uma insignificante sofressora desta Era de Calamidades Sem Conta, estou aqui preocupada com pequenos probleminhas cotidianos, com a possibilidade de falta de luz intersticial.

Mas, um Herói irá se sobressair no meio de todo esse alvoroço e gritará a sua sentença de paz. Quando esse dia chegar, estarei a postos, para relatar-lhes o Acontecimento.

Aguardem novas notícias no Domingo que vem. Espero que vocês recebam aí no Futuro Sem-Muro Glorioso o meu profundo amor transecular!

ODISSÉIA MARIA, conforme a Lei, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseides, descendentes de Indomáveis Caçadores de Onças Pintadas e Jaquatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma região paradisíaca, ímpar, maravilhosa, situada na parte Leste do Brasil Varonil.

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