Quer se comunicar com a gente? Entre em contato pelo e-mail neumac@oi.com.br. E aproveite para visitar nossos outros blogs, o "Neuza Machado 2", Caffe com Litteratura e o Neuza Machado - Letras, onde colocamos diversos estudos literários, ensaios e textos, escritos com o entusiasmo e o carinho de quem ama literatura.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

OLHAR PODEROSO: IMAGINÁRIO SEM LIMITES



OLHAR PODEROSO: IMAGINÁRIO SEM LIMITES

NEUZA MACHADO



Tais quais os anteriores pós-modernos/modernistas do início do século XX, os narradores pós-modernos/pós-modernistas de Segunda Geração foram jogados à pressão do progresso. Mas, diferentes dos anteriores, não quiseram desenvolver um olhar acima da realidade (a partir do segundo cogito dialetizado), não se propuseram a agir como demiurgos, a criar uma insólita realidade ficcional. Exigiram mais de si mesmos. Assumiram uma participação ativa em seus textos ficcionais, posicionando-se como escritores-personagens-narradores, denunciando, inclusive, suas próprias inquietações existenciais, mostrando-se aparentemente fragilizados ante o imensurável de uma degradada realidade globalizada. Preferiram a preocupação com o presente (mesmo simulacrado em passado histórico, ou escrito em presente histórico), ao invés de se reportarem paraliterariamente ao passado real, ou mesmo se preocuparem profeticamente com o futuro incógnito, desenvolvendo a diferente criatividade ficcional por intermédio de uma inquietação revestida por uma simulação da tal realidade (afinal, quem reproduz fielmente a realidade são os cronistas e jornalistas, ou seja, os escritores paraliterários, não os autênticos criadores ficcionais).

As mãos que trabalham (a criação ficcional), os olhos que vêem (o homem como um produto das aparências), ambos acrescidos do imaginário particular ímpar do ficcionista, repleto de conhecimento de que natureza for (mesmo que o ficcionista esteja desiludido por se ver submetido às exigências sócio-ideológicas de seu momento estético), impõem a visão do chamado hiper-realismo, visão transformadora, intensamente grandiosa, abeirando-se ao plano metafísico do sonho. Mas a vida ordinária pós-moderna já é por si um sonho dantesco, os simulacros existenciais são maiores e até mais interessantes do que a própria realidade. Assim, os narradores deste momento da pós-modernidade sonham a realidade que desejam transmitir aos seus leitores (aos leitores do futuro, bem entendido), mas não podem furtar-se à transmissão criativa de tais simulacros. Entre os personagens desses sonhos amplos, resgatados pela mão poderosa, pelo olhar poderoso, e pelo especialíssimo imaginário-em-aberto (imaginário sem limites) do escritor, esses sonhos são antes de tudo reveladores de personagens atuantes, e cada um deles terá de se mostrar repleto de brilho, mesmo que apareça e desapareça rapidamente ao longo do texto ficcional. Por tais motivos, todos os personagens de Rogel Samuel, em seu romance O Amante das Amazonas, são importantes e são atuantes. São todos imprescindíveis ao desenrolar da ficção, porque, mesmo que (alguns) apareçam esporadicamente, ao longo da narrativa, como, por exemplo, a Sabá Vintém, a manicura das ricas senhoras (ela que sabe de tudo o que acontece no ambiente narrado), não poderão ser descartados. São poderosos auxiliares dos narradores rogelianos (quantas informações preciosas foram repassadas aos narradores, por intermédio de Sabá Vintém, ou pela personagem-bibliotecária Estella de Sousa?).

MACHADO, Neuza. O Fogo da Labareda da Serpente: Sobre O Amante das Amazonas de Rogel Samuel.

Um comentário:

  1. olhar poderoso o seu, olhar crítico, olhar criatico, que recria o objeto que está morto no olhado, olha recriador dos mitos da Pós-modernidade, que depois de 11 de setembro mergulhou numa nova fase, talvez a do seu fim, talvez a do nascimento do novo.

    ResponderExcluir