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sábado, 3 de abril de 2010

BACHELARD: TEORIA DA DESCONTINUIDADE - 18


BACHELARD: TEORIA DA DESCONTINUIDADE - 18

NEUZA MACHADO



Para a teoria da descontinuidade, cada movimento pode ter uma qualidade, um sentimento, uma imagem, um pensamento que esteja predominando naquele instante, diferente da qualidade do movimento anterior e diferente também da qualidade registrada na teoria da continuidade.

Sob a orientação bergsoniana (teoria da continuidade), os tempos, qualitativos, ocorrem paralelamente/ simultaneamente. Em outras palavras, holisticamente (organizadamente) um tempo está potencialmente contido no outro; a preponderância de um vai depender do ponto de vista escolhido; porém, para Bachelard, que não desmerece em absoluto os pontos de vista de Bergson, apenas rejeita a idéia da continuidade temporal, a intuição pura permite perceber os tempos destacados, suspensos entre o antes e o depois, anulando definitivamente as prováveis uniões entre eles. O filósofo, a partir da intuição, obriga-se a criticar o ponto de vista holístico (organizado) do tempo, admitindo um novo conceito de tempo. O tempo feito de acidentes de Bachelard se deve às várias dimensões que existem, superpostas e simultâneas, e que, por um ponto de vista macroscópico, podem parecer holísticas.

O tempo feito de acidentes está perto das inconsequências quânticas, mais do que das coerências racionais ou das consistências reais (tempo absoluto) e mais do que das correlações de pontos harmônicos (tempo relativo), porque a cada instante há uma mudança na qualidade do evento que não tem consequência na qualidade do mesmo evento de um instante antes. Esse instante é único, porque há uma integração súbita e completa das imagens, pensamentos e sentimentos, mas isso não quer dizer que um instante seja consequência do anterior. O evento está fora do ser aparente, está no pensamento. No instante em que o evento assume uma qualidade, o observador participa desta qualidade, como se ele também tivesse esta qualidade, e de fato ele tem, porque, nesse momento fervilhante, fica óbvio que tudo faz parte de um instante irreproduzível. Por isto, Bachelard fala de intuição, da captação da qualidade de um evento pela intuição, acrisolada no repouso fervilhante. Não haveria tempo também para fazer essa captação pela racionalização (esta só aparecerá depois do repouso fervilhante, na forma de um novo pensamento); é difícil manter uma meditação vital, porque esta dificuldade para meditar é que comprova o tempo feito de acidentes, que muito se aproxima das inconsequências quânticas, tão voláteis, como foi dito antes.

MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8

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