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quarta-feira, 5 de maio de 2010

4.2 – GUIMARÃES ROSA: MOMENTO DE MUDANÇA DISCURSIVA


4.2 – GUIMARÃES ROSA: MOMENTO DE MUDANÇA DISCURSIVA

NEUZA MACHADO


As duas faces/fases do mito (carismático-guerreiro e carismático-religioso), ligadas ainda às primeiras narrativas de Sagarana, marcaram as etapas iniciais da narrativa ficcional A Hora e Vez de Augusto Matraga. A partir do momento de conflito do personagem Nhô Augusto, os personagens e os narradores, acrescentando também o universo roseano em sua totalidade, não serão mais reprodutores de conceitos substanciais. Uma chama de tocha, depois do conflito central, sugeriu a mudança, dilatou os limites do pensamento criador. A fogueira e a tocha na mão do personagem mudaram a aparência do sertão geográfico da infância.

“O ser fascinado escuta o apelo do braseiro. Para ele, a destruição é mais do que uma mudança, é uma renovação” (Bachelard).

O personagem ocasional Tião da Thereza destrói o aparentemente equilibrado espaço sertanejo da primeira fase. O Ficcionista da terra e água sertanejas, visualizadas antes em seus aspectos exteriores, escuta o apelo do braseiro e promove a destruição do personagem Nhô Augusto e seu mundo de aparências. Promovendo o desenlace (a morte do personagem, no final), renova o próprio ato criativo, valendo-se de seu poder de contemplação sustentado pelo fogo, matéria que não faz parte de suas substâncias essenciais.

O fogo, elemento temporariamente exaltado nesta narrativa, e particularmente relacionado ao pensamento filosófico (questionador e observador de aspectos profundos do natural e social), aqui favorece uma futura excursão/incursão nos planos profundos da terra e da água, elementos ainda primordiais da segunda fase criativa de Guimarães Rosa, iniciada com a divulgação da coletânea Primeiras Estórias, assim como promove também a libertação total e definitiva da consciência pura de um narrador sertanejo excepcional (terceira e última fase), simbolizada pelo elemento ar.

“Nas mais variadas circunstâncias, o apelo da fogueira continua a ser um tema poético fundamental. Na vida moderna já não corresponde a nenhuma observação positiva. Mas ainda assim comove-nos. Desde Vitor Hugo até Henri Régnier, que a fogueira de Hércules continua, como um símbolo natural, a revelar-nos o destino dos homens. Aquilo que é puramente fictício para o conhecimento objetivo permanece portanto profundamente real e ativo em relação aos devaneios inconscientes. O sonho é mais forte do que a experiência” (Bachelard).

Apesar das matérias eleitas (terra e água), o apelo do fogo purificador foi indispensável, nesta narrativa, para que houvesse a já assinalada mudança discursiva.

MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8

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