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quinta-feira, 6 de maio de 2010

4.3 – GUIMARÃES ROSA: REMODELANDO O ESPAÇO DE ORIGEM


4.3 – GUIMARÃES ROSA: REMODELANDO O ESPAÇO DE ORIGEM

NEUZA MACHADO



O fogo surge inicialmente sob os moldes míticos, mostrando nitidamente a relutância do Artista em abandonar o antigo método de contar estórias, característico do narrador de experiências comunitárias. Posteriormente, simbolizado pela fogueira e pela tocha na mão do herói humilhado, o fogo propicia um novo discurso, inspirado nas recordações de uma infância sertaneja. (Aqui, é pertinente lembrar que, mesmo que o Artista tivesse nascido em uma pequena cidade, ao invés do sertão propriamente dito, esta cidade, no início do século, estaria circunscrita ao sertão, possuindo assim valores que não se enquadravam em um ambiente modernamente citadino. Portanto, não é inadmissível pensar em uma infância sertaneja para o Artista, já que o próprio assim se denomina).

“(...) sou um sertanejo e acho maravilhoso que você deduzisse isso lendo meus livros, o que significa que você os entendeu. Se você me chama de "o homem do sertão" (e eu realmente me considero como tal), e queremos conversar sobre este homem, já estão tocados no fundo os outros pontos. É que eu sou antes de mais nada este "homem do sertão"; e isto não é apenas uma afirmação biográfica, mas também, e nisto pelo menos eu acredito tão firmemente como você, que ele, esse "homem do sertão", está presente como ponto de partida mais do que qualquer outra coisa” (Guimarães Rosa – ENTREVISTA a Günter Lorenz).

Inspirado nas recordações poéticas de uma infância sertaneja e sob as ordens temporárias do elemento fogo, o Artista remodela o seu espaço de origem. A mudança discursiva obriga o leitor a repensar o sertão.

O fogo possui o poder de comover e ao mesmo tempo revelar o destino dos homens. Uma narrativa experiente, linear, não revela, apenas decalca experiências abalizadas. O fogo induz ao sonho, predispõe à criação ficcional, muito mais reveladora do que o simples ato de contar estórias de coronéis poderosos. O sonho (diante do fogo) é mais forte do que a experiência; promove explicações profundas.

“A profundidade é aquilo que se esconde; é aquilo que se cala” (Bachelard).

Esta frase de Gaston Bachelard resume suas teses sobre ciência e espírito, no capítulo "Psicanálise e Pré-história”. O filósofo procura provar que, sem desmerecer a psicanálise oficial, a psicanálise indireta e secundária, aquela que busca o inconsciente sob o consciente, o subjetivo e o devaneio, é tão válida quanto a outra. Afirma inclusive que a ciência é sempre precedida por um devaneio, exigindo trabalho e concentração, para que o cientista não se deixe dominar pelo sonho.

MACHADO, Neuza. Do Pensamento Contínuo à Transcendência Formal. Rio de Janeiro: NMachado / ISBN: 85-904306-1-8

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