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domingo, 1 de agosto de 2010

XII - MEMÓRIAS DE CIRCE IRINÉIA: JOAQUIM PEREIRA DA CUNHA

XII - MEMÓRIAS DE CIRCE IRINÉIA: JOAQUIM PEREIRA DA CUNHA

NEUZA MACHADO

Meu BisAvô mestiço, o Joaquim Pereira da Cunha (Avô de Antoinzinho Aquileu Papai), o Herdeiro Legítimo da Fazenda Córrego dos Pereiras e dos Escravos, passou a dedicar aos negros, seus consanguíneos, um profundo rancor. A partir de sua iniciante e arrogante demência, já não raciocinava de acordo com as leis da bondade e não via os negros de sua propriedade como irmãos de sangue. Esse bisavô casou-se com uma rica herdeira, branca, de olhos azuis (segundo Antoinzinho Papai), a decantada e louvada Avó Maria Brasilina de Jesus, nata de uma localidade próxima ao Arraial do Divino de Carangola (naquela época, o Divino era considerado Arraial).

Entretanto, nem mesmo o casamento arrefeceu sua maldade em relação aos escravos de sua Fazenda. Para ele, todos eram de raça ruim, causadores da morte de seu Pai João Pereira, vulgo Barba de Argolão, e, na sua já pré-anunciada demência (morreu louco, coitado!, depois da Abolição dos Escravos, decretada pela Princesa Dona Isabel), não se considerava irmão de sangue dos negros. O Sinhô Joaquim Mulato rejeitava, ostensivamente, o sangue de sua mãe, a linda mestiça Antoninha Pereira, apesar da pele amoirenada e do cabelo meio carapinha.

A imitar o acontecimento anterior (o envenenamento do Sinhô João Pereira), uma nova vingança foi planejada pelas mesmíssimas duas escravas: ferir o amo de cor doirada naquilo que ele possuía de mais valor, ou seja, a Sinhá Maria Brasilina. Vó Maria Brasilina do Papai Antoinzinho, de pele branca e olhos azuis, começou a definhar, num processo lento de caminhada em direção à morte. Nhô Joaquim Pereira (olhe aí o descendente de cristãos novos) mandou chamar as duas e disse o seguinte: “― Se Sá Maria morrer, ocês duas vão ser queimadas vivas numa grande fogueira. Tratem de curar a Sinhá, já, já!

Mandou, logo a seguir, alguns escravos preparar a fogueira no terreiro. As escravas (culpadas ou não), com medo da ameaça, correram para o mato em busca das ervas milagrosas. Elas conheciam também as ervas que agiam como contraveneno. As escravas cuidaram de minha BisAvó Maria Brasilina Pereira de Jesus com chás e infusões de ervas curativas que só elas conheciam. Três dias depois, Vovó Maria Brasilina do Papai Aquileu já caminhava pelo quarto da Grande Fazenda como se não tivesse tido doença alguma em sua vida.

Se esta história, que estou a contar-lhe!, não for verdadeira, Meu Leitor!, Meu Ouvinte!, Meu Amor!, culpe a imaginação de meu Papai Antônio Aquileu, que se valeu da imaginação de sua Mamãe Antoniña de Tétis Pereira de Jesus, filha do referido Senhor Mulato Joaquim Pereira, proprietário de um vasto Oceano de Plantações de Café, quero dizer, de um vasto território de plantações de café. Eu, Circe Irinéia (esquecia-me de dizer-lhe o meu nome), em particular, não vejo muita diferença entre imaginação e memória. Lembre-se, Meu Jove(m)!, eu escrevi imaginação!!!

Desse BisAvô de Meu Pai, o Joaquim Pereira da Cunha, tenho muita coisa para contar-lhe. Contarei noutra ocasião, páginas adiante; talvez nem conte, porque posso esquecer a promessa. Tudo é possível no Mundo da Ficção! Só adianto-lhe, Menino!, que o Joaquim desta história morreu louco (no Final do Século XIX), acorrentado, em seu quarto, arrastando uma grossa corrente de ferro, principalmente, por ocasião das Misteriosas Noites de Lua Cheia de Minha Minas Gerais Natal.

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