Quer se comunicar com a gente? Entre em contato pelo e-mail neumac@oi.com.br. E aproveite para visitar nossos outros blogs, o "Neuza Machado 2", Caffe com Litteratura e o Neuza Machado - Letras, onde colocamos diversos estudos literários, ensaios e textos, escritos com o entusiasmo e o carinho de quem ama literatura.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

XVI - MEMÓRIAS DE CIRCE IRINÉIA: JANE MARTINS

XVI - MEMÓRIAS DE CIRCE IRINÉIA: JANE MARTINS

NEUZA MACHADO

Penso que a convivência com Jane Mamãe transformou-me em uma mulher corajosa. Luto pela felicidade. Sempre lutei. Enquanto houver vida em mim, lutarei. Não foram as lamúrias de Mamãe, avolumadas ao longo dos anos, que fizeram ou que farão com que eu desista de viver, de amar a vida.

Hoje, neste final de século XX, olho para o passado com Jane Mamãe e uma íntima ternura me envolve. Já não sou jovem (sou centenária, não se esqueça!). Minhas incompatibilidades com Jane Mamãe, naqueles anos (incompatibilidades e mágoas que me acompanharam na mocidade, e que não pesam, porque foram autênticas e não camufladas, portanto, livres de culpas), hoje, jazem inertes nos compartimentos da memória, só as recordações conseguem revivê-las. Esses anteriores descompassos jazem inertes em minhas lembranças, e hoje uma profunda pena me invade, em relação à vida de Jane Mamãe, seus anos atormentados aqui nesta terra de Deus, porque a vi, em seus últimos anos, tão velhinha e acabada, sucumbindo sob o peso de tantas infelicidades, reais ou não, mas todas criadas por ela mesma, e estas lembranças me entristecem profundamente.

De qualquer maneira, reconheço que o bem-estar financeiro passou longe dela e de Papai, e isto a magoou tremendamente. Então, pela minha ótica, evidentemente!, hoje relembrando Jane Mamãe a caminhar com dificuldade, caminhando para o fim, não posso desistir de pensar que ela nasceu e viveu para ser infeliz, pois ela mesma, repleta de ciúmes, impediu Papai de progredir. Mamãe carregou mágoas, a vida toda!, mágoas que eram relembradas como se estivessem gravadas num gramofone antigo e rouco, e que jamais fora desligado. Jane Mamãe e seu disco inquebrável, perturbando para sempre nossas vidas. “Ah!, Minha Jane Mamãe!, por mais qu’eu almeje saúde mental para mim (para o meu sossego!), seu disco de mágoas me perseguirá até a hora de minha morte!

Nenhum comentário:

Postar um comentário