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terça-feira, 23 de novembro de 2010

DE VOLTA PARA O PASSADO: SINHÁ MARIA BRASILINA DE JESUS - A AVÓ BRANCA DE OLHOS AZUIS DE ANTOINZINHO PAPAI - 7

DE VOLTA PARA O PASSADO: SINHÁ MARIA BRASILINA DE JESUS - A AVÓ BRANCA DE OLHOS AZUIS DE ANTOINZINHO PAPAI - 7

NEUZA MACHADO

O avô de Antoinzinho Papai, o Sinhô Mestiço Joaquim Pereira da Cunha, era casado com Maria Brasilina de Jesus, uma descendente da família Alves de Divino do Carangola (uma senhora muito bonita, oriunda da fina flor da aristocracia portuguesa-rural de Minas Gerais, branca, de olhos azuis, segundo as seguras informações de meu pai).

Ainda de acordo com as Memórias de Antoinzinho Papai (indeléveis lembranças de meu querido pai, reavivadas prazerosamente em seus momentos de descontração familiar — isto, nas ocasiões em que Jane Mamãe estava de bom humor e também contava os interessantes casos de sua família), a minha bisavó Maria Brasilina foi muito amada pelo bisavô negro Joaquim Pereira, o herdeiro da Fazenda Cachoeira dos Pereiras (inaugurada pelo português João Pereira da Cunha, em meados do século XIX).

Para os Internautas apreciadores de Antigas Histórias Familiares de Minas Gerais, os mimoseio com mais alguns trechos da História de Antônio:


A HISTÓRIA DE ANTÔNIO

ANTÔNIO DE SOUSA COSTA


Joaquim Pereira da Cunha, nome completo, casado com Maria Brasilina de Jesus. Tiveram nove filhos, sendo seis homens e três mulheres. Nome dos homens: João, Sebastião, Joantônio, Luís, Raimundo e Manuel. Nome das mulheres: Antônia, que tinha apelido Antoninha (minha mãe), Olívia e Corina. João, sendo o filho mais velho, casou-se com Cecília e foi morar em Mutum, um lugar que fica ao Norte de Minas. Sebastião casou-se com Maria, apelidada Cota. Joãntônio casou-se com Maria, viúva de Manoel Lopes. Ela morreu, e ele casou-se pela segunda vez com Augusta, viúva de Antônio Amorim. Luís casou-se com Floripes. Raimundo casou-se com Antoninha, e Manoel casou-se com Conceição. A filha Antoninha casou-se com José de Souza Costa, apelido Zeca (estes foram os meus pais). Olívia casou-se com Marcolino. Corina casou-se com Antônio, apelidado Antônio Carabineiro. Estes são os nomes dos filhos e filhas de Joaquim Pereira da Cunha e de Maria Brasilina de Jesus (meus avós por parte materna).

Joaquim era severo com os escravos (apesar de seu parentesco com seus próprios escravos, já que sua mãe Antônia era mestiça), batia nos escravos amarrados num topo, e sem piedade. Um dia, as duas escravas quiseram fazer uma vingança, mas não com ele. Dessa vez, elas quiseram matar a esposa dele, Maria Brasilina, que ficou doente e foi pra cama. Estava mesmo a ponto de morrer, mas, Joaquim, desconfiou das duas escravas, e disse pra elas: “– Se Maria morrer, eu vou acender uma fogueira e vou jogar vocês duas vivas dentro do fogo”. Sabendo que ele falava e cumpria o juramento, elas desmancharam o feitiço, e, em poucos dias, Maria Brasilina estava salva daquele mal.

(...)

Mas, continuando a história sobre a minha avó Maria Brasilina, recordo-me do meu tempo de menino, quando minha mãe ia passar o domingo na casa de sua mãe, minha avó Maria Brasilina, e, lá, já estavam tia Olívia, com os filhos; tia Cota, tio Bastião e os filhos; os filhos de tio Joantônio, Geralda e Tião, que ficaram órfãos de mãe e foram criados pela minha avó. Todos nós almoçávamos em casa, mas, o jantar era na casa dela. Como era muita gente para comer, e ela tinha uma grande gamela de pau, minha avó enchia a gamela de todas as iguarias de comidas, e punha a gamela no meio da cozinha muito grande, para a meninada comer, e, ali, o grupo reunido começava a discutir, um com o outro, e, assim, minha avó vinha e separava, para cada um de nós, um montinho de sua saborosa comida, e dizia: “– Agora vocês não precisam brigar; cada um tem o seu monte”. Acabada a refeição, nós íamos brincar, e, assim, passávamos o domingo todo com ela, e, de tarde, voltávamos para as nossas casas. Mas, sempre, eu ia à casa dela, para saber das coisas do passado, que ela me contava, e, também, eu a ajudava no fabrico de tecidos, pois ela fazia cobertores de lã de carneiro e de algodão; fazia até roupa para se vestir; ela cultivava o plantio de algodão. E, quando eu chegava, às vezes, com alguns dos primos, ajudava ela no trabalho. Todos os netos a ajudavam no seu trabalho: ela fiando no tear e nós, meninos, fazendo outro serviço, descaroçando o algodão em uma moendazinha, espécie de uma engenhoca, que passava o algodão, separando os caroços. Dali, o algodão ia ser batido, com um arco, espécie de bodoque, que batia o algodão até separar toda a sujeira. Depois de batido, o algodão era preparado para se transformar em linha. Para fazer linha, minha avó tinha um fuso. Fuso era o nome que se dava a uma espécie de máquina, inventada na Antiguidade, para fazer tecidos. Era uma espécie de piorra, com um cabo comprido; pegava-se um punhado de algodão, ia-se rodando o fuso, esticando a linha, e enrolando num novelo, até ficar do tamanho de uma laranja baía, das grandes. E, assim, era nosso trabalho, com nossa avó Maria Brasilina. Meu Deus, como era bom aquele tempo que não volta mais! A minha avó era uma pessoa muito amável, era muito carinhosa com os netos. Todos nós a chamávamos de mãe e vovô Joaquim, de pai; motivo porque, meu pai, quando casou com minha mãe, morou com os meus avós, e, nos primeiros anos de casado. E nasceram meus dois irmãos mais velhos em casa de meus avós. Tio Manoel e tia Corina eram crianças, ainda bem menininhos, e ensinaram aos meus irmãos a chamar os avós de pai e mãe, e, aos nossos pais, de Zeca e Antoninha, conforme eles chamavam. E, assim, todos nós irmãos, com o passar dos anos, continuamos no mesmo ritmo.


Voltando a Joaquim Pereira, meu avô. Minha avó Maria Brasilina contou-me que, no início que meu avô começou a enlouquecer, ele pegou a filha Corina, na idade de um ano, carregando ela nos braços, chamou dois cachorros, e subiu acima da cachoeira d’água da Fazenda, atravessou a cachoeira, na parte do início da correnteza, carregando a menina, já de noite. Do outro lado da cachoeira era uma mata virgem. Subiu margeando o rio, dentro do mato, até chegar em uma casa velha abandonada. Entrou dentro da casa com a menina, acendeu um fogo, deitou a menina perto do fogo, deixou os dois cachorros vigiando a menina, e foi pra casa de Antônio Acácio Pereira, que era seu sobrinho e concunhado, porque Antônio Acácio era casado com Francisca, irmã de Maria Brasilina. E Antônio era filho de Joana, irmã de Joaquim Pereira. Minha avó Maria Brasilina, quando deu por falta da menina, teve certeza que era o pai que a tinha carregado para algum lugar, pois deu por falta dos dois cachorros, que não estavam em casa. Chamou os filhos, despachou um para um lado, outro pra outro lado, e Raimundo subiu acima da cachoeira, e, quando foi atravessar, escorregou-se no limo da pedra e afundou-se em um remanso. Este trecho da história foi-me contado por ele próprio, em casa de meu pai Zeca. Dizia ele: “– Se não soubesse nadar, tinha morrido afogado”. O remanso era muito fundo. Ele contava que sentiu um zunzum dentro dos ouvidos, e foi até ao fundo, e, quando voltou à flor d’água, nadou e saiu. E foi pela mesma trilha que o pai tinha passado com a irmãzinha, e, chegando até a casa abandonada, encontrou a menina deitada perto do fogo, e os dois cachorros vigiando a menina. Tio Raimundo voltou com a menina pra casa. Ao chegar em casa, a família já tinha recebido a notícia que o pai estava em casa do sobrinho Antônio Acácio. Esperaram o dia amanhecer para irem buscá-lo. Todos os filhos se reuniram e foram buscar ele. Mas, quando chegaram à casa de Antônio Acácio, ele já tinha saído para o outro lado da Serra, e sempre caminhando pra frente, e eles perseguindo-o. Quando chegaram perto, e deram voz de prisão, ele avançou pra cima deles, jogando pedra, e foi a maior luta entre eles, e ele, mais com muito custo, foi preso pelos filhos. Assim, conseguiram prender ele e voltar para casa.

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