Quer se comunicar com a gente? Entre em contato pelo e-mail neumac@oi.com.br. E aproveite para visitar nossos outros blogs, o "Neuza Machado 2", Caffe com Litteratura e o Neuza Machado - Letras, onde colocamos diversos estudos literários, ensaios e textos, escritos com o entusiasmo e o carinho de quem ama literatura.

domingo, 16 de outubro de 2011

CECÍLIA MEIRELES E SEU "ROMANCEIRO" PÓS-MODERNO: ROMANCE XXXI OU DE MAIS TROPEIROS


CECÍLIA MEIRELES E SEU “ROMANCEIRO” PÓS-MODERNO: ROMANCE XXXI OU DE MAIS TROPEIROS

NEUZA MACHADO

Hoje, neste meu blog, o canto do Romanceiro de Cecília Meireles, escolhido para ser apresentado aos Leitores-Internautas (que sempre me honram com suas visitas), intenta homenagear os muitos corajosos brasileiros que, assim como Tiradentes (que era um simples Alferes de Cavalaria no final do século XVIII), se empenharam patrioticamente pelo bem-estar socioeconômico da maior parte de nosso povo (aquela maior parte em situação de extrema miséria).

Sempre será válido lembrar, com as mais vivas cores, que, até bem pouco tempo (até ao final do século XX), o Brasil estava comprometido com o FMI, por causa de uma dívida que parecia não ter fim. E que, por orientação expressa desse organismo financeiro, assumia posturas que sobrecarregavam todos os brasileiros com altas taxas e impostos.

Dentro desse contexto de vampirismo feito pelos anteriores submissos governantes de um tenebroso passado, os que mais sofriam eram a classe média (a que realmente pagava os impostos exigidos), uma classe que, sem ter dinheiro suficiente, tentava manter uma aparência de riqueza, e a classe proletária, que não tinha reserva alguma de capital para prevenir-se das oscilações financeiras. Os poucos muito ricos (com seus secretos cofres e com suas contas protegidas em paraísos fiscais), no máximo, diminuíram o número de viagens, mas, apenas, para não ficarem expostos às manchetes. Quanto aos miseráveis brasileirinhos, será que eles sabiam do quê e por quê estavam morrendo?

Para mudar esse quadro no Brasil, somente os historicamente incomodados e resistentes homens do povo, aqueles capazes de tirar leite da pedra, repletos de fé inabalável no futuro (os que lutaram por uma Nação dignificada, hoje, todos bem representados pelo líder sindicalista dos metalúrgicos dos anos oitenta, Luís Inácio Lula da Silva), tiveram a coragem de encarar de baixo para cima o olhar superior do ciclope FMI.

Será que os 80% do povo brasileiro, os que agora reabilitaram suas dignidades, que não precisam mais olhar o porvir com os olhos desesperançosos, irão desistir da busca pela emancipação financeira e se conformarão com o que já foi conquistado?

Sempre consciente de que a arte literária – produzida em qualquer ocasião da história da humanidade – possui força moral para que seus leitores do momento e os do futuro possam refletir sobre os problemas que os incomodam, exponho aqui, neste meu sítio, essa expressiva visão lírica de Cecília Meireles, a respeito da história dos inconfidentes do Brasil-Colônia. Inclusive, reafirmando sempre que a matéria lírica, neste Romanceiro de Cecília Meireles, foi singularmente conformada em uma grande obra epo-lírica (narrativa em versos, apresentando os fenômenos estilísticos próprios do Gênero Épico).


ROMANCE XXXI OU DE MAIS TROPEIROS

Cecília Meireles

Por aqui passava um homem
– e como o povo se ria! –
que reformava este mundo
de cima de montaria.

Tinha um machinho rosilho.
Tinha um machinho castanho.
Dizia: “Não se conhece
país tamanho!”

“Do Caeté a Vila Rica,
tudo ouro e cobre!
O que é nosso vão levando...
E o povo aqui sempre pobre!”

Por aqui passava um homem
– e como o povo se ria! –
que não passava de Alferes
de cavalaria.

“Quando eu voltar – afirmava –
outro haverá que comande.
Tudo isto vai levar volta,
E eu serei grande!”

“Faremos a mesma coisa
que fez a América Inglesa!”
e bradava: “Há de ser nossa
tanta riqueza!”

por aqui passava um homem
– e como o povo se ria –
“Liberdade ainda que tarde”
nos prometia.

E cavalgava o machinho.
E a marcha era tão segura
que uns diziam: “Que coragem!”
E outros: “Que loucura!”

Lá se foi por esses montes,
o homem de olhos espantados,
a derramar esperanças
por todos os lados.

Por aqui passava um homem...
– e como o povo se ria!...
Ele, na frente, falava,
e, atrás, a sorte corria...

Dizem que agora foi preso,
não se sabe onde.
(Por umas cartas entregues
ao Vice-Rei e ao Visconde.)

Pois parecia loucura,
mas era mesmo verdade.
Quem pode ser verdadeiro,
sem que desagrade?

Por aqui passava um homem...
– e como o povo se ria! –
No entanto, à sua passagem,
tudo era como alegria.

Mas ninguém mais se está rindo,
pois talvez ainda aconteça
que ele por aqui não volte,
ou que volte sem cabeça...

(Pobre daquele que sonha
fazer bem – grande ousadia –
quando não passa de Alferes
de Cavalaria!)

Por aqui passava um homem
– e o povo todo se ria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário