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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS: AS GLORIOSAS CRIANÇAS DA VIAGEM ENCANTADA - 15.3


AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS: AS GLORIOSAS CRIANÇAS DA VIAGEM ENCANTADA - 15.3

NEUZA MACHADO

Enquanto aquilo,
– o Bhima Interplanetário
se decidindo a viajar de ônibus também –
o Ônibus Mileum chegou,
e enquanto não,
a Veneranda Discípula da Sábia
foi comprar um Grande Saco
de Pipocas de Microondas,
que custava a bagatela de um real
e noventa centavos.

A discípula da Sábia Trimilenar
planejava degustar as pipocas
durante a viagem.

A Tal, muito conversada e serelepe,
uma Velha muito prafrentex,
cumprimentou o Motorista Ariston
e ficou sabendo, ali, naquelle momento,
que a Empresa de Ônibus Mileum
vendera as linhas
(as que faziam trajectos para as
Cidades de Minas Gerais)
para uma outra Empresa.

E que, por sinal, justo naquella Terça-Feira
já era o Terceiro Dia sob
o domínio da Mesma,
porque, desde o Domingo anterior,
a actual proprietária
já havia tomado posse da Frota Mineira,
colocando, desde então,
o seu selo de mando e acção.

A Discípula da Sábia Sabida
(tendo ao seu lado, o Invisível Milenar)
carregando a sua Sacola de Viagem Brilhante
e o saco de pipocas cheirosas e gostosas
se foi sentar lá no fundo do Ônibus,
na Poltrona 39 exatamente.

Imediatamente uma Auréola de Pura Magia
começou a enlaçar a Viagem
da Veneranda Diana Maria
de Aventuras Sem-Par
e Muita Euforia.

E o Bhima achou muuuita graça
nos enrolados acontecimentos
que se seguiram.

Naquelle Dia Glorioso,
Gloriosas Crianças iriam também
viajar no Tal Ônibus Aerodinâmico,
juntamente com suas Famílias.

O cheiro delicioso da pipoca mexeu
com os infantis narizinhos,
e com os narizes dos adultos, inclusive.

Já era hora do almoço
e os viajantes ainda não tinham almoçado,
e as crianças sinceras
sentiram o cheiro da pipoca
saboreada pela Veneranda Discípula
da Sábia Sabida Väjira Diamante
da Língua Pali Florida
do Oriente Distante
Uma Terra Garrida.

U’a Menininha Magrinha,
do outro lado da fileira de poltronas,
falou chorosa e dengosa para a mãe
que estava com fome,
e pediu-lhe pra comprar
“uma coisa pra mim comer, mãe!”

A Mãe da Menininha Magrinha
zangou-se com ela,
e mandou-a calar a boca
e ficar bem quietinha.

A Discípula da Sábia,
naquelle momento,
percebeu o tamanho do estrago
que fizera ao comprar
o Tal Saco de Pipocas Cheirosas.

Sacudiu, então,
a sua Bolsa Mágica e Brilhante,
e tirou, lá de dentro,
um saquinho plástico,
colocando dentro dele um punhado
de pipocas cheirosas.

E ofereceu o saquinho de pipocas
à Menininha Magrinha,
tão engraçadinha!

A Mãe imediatamente
aceitou a oferta,
muito contente,
saboreando também
a pipoca saborosa,
comendo muito muito muito mais!
que a Menininha Chorosa.

A Mãe da Menininha Magrinha
não tinha dinheiro para comprar
alimento suculento pra filhinha
durante a viagem,
mas portava nas mãos
um maço de cigarros cancerosos
e uma caixa de fósforos fosforosos.

Nesse entretanto,
uma outra Menininha Serelepezinha,
entre as muitas Menininhas Bagunceirinhas
de uma outra
Grande e Barulhenta Família,
sentiu também o cheiro da pipoca saborosa
e disse para a Mãe
Tão Novinha:
“Mãe, tô sentindo um cheiro
de pipoca estragada!
É mesmo!, sim senhora!, de verdade!,
pipoca estragada, Mãe!”

A Veneranda Discípula
da Sábia Sabida
riu-se por dentro.

A Menininha queria
a pipoca cheirosa
que não lhe pertencia,
e por isto desdenhou
o cheiro que sentia.

O Bhima riu-se por dentro
também.
Não é que as cenas
se desenrolavam engraçadas,
dentro do Ônibus Aerodinâmico?!,
enquanto o Tal Rodava
Veloz e Seguro
a Direção
ao Futuro Sem-Muro?

A Discípula da Sábia
não teve outro jeito.

Sacudiu a sua
Mágica Bolsa Brilhante,
e retirou lá de dentro
outro saquinho
de plástico transparente.

Encheu o saquinho
com a pipoca cheirosa,
gostosa e quentinha,
e deu-o para a tal Menininha.

No mesmo instante,
uma Chuva de Meninas Agitadas
Acompanhantes,
irmãs da Tal Menininha,
disputaram com ela
o saquinho de pipocas
fresquinhas.

A Veneranda Discípula da Sábia
se contentou em comer apenas
uma pequena porção de suas pipocas
cheirosas e saborosas.

A maior parte
das pipocas saborosas
foi distribuída com as Crianças
que viajavam no Ônibus.

A Veneranda pensou
Com seus botões antigões:

“Nunca mais vou comprar
Sacão de Pipocas de Microondas
para comer em minhas
Viagens Encantadas”,
pensou e repensou
a Discípula da Sábia Sabida.
“Não se deve oferecer
Migalhas de Alimentos
às pobres Crianças
tão mal-amadas,
coitadas!
É melhor não assanhar
os sentidos olfativos
das Crianças Inocentes”.

A Discípula Esotérica da Sábia Sabida
não se conformava por ver
o maço de cigarros cancerosos nas mãos
da Senhora Macérrima,
que viajava
na outra banda do Ônibus
com sua Filhinha Magrinha.

A Menininha não tinha sequer
um biscoitinho barato para comer
durante a viagem,
mas a Mãe tivera dinheiro
para comprar os cigarros cancerosos.

“Isto é um absurdo!”,
pensou inconformada
a Veneranda Diana da
Curta Cabeleir’Alada.

Lá pelas tantas,
alguns passageiros desceram,
e a Discípula foi sentar-se
em uma poltrona,
um pouco distante,
no meio do Ônibus.

Não queria olhar
(através de seus Óculos
TriDimensionais
Escuros,
próprios para ver ao redor,
sem que os seus olhos
fossem vistos)
a Pobre Menininha Magrinha,
faminta, coitadinha!,
sorrindo-lhe em sua direção.

Não que a Veneranda
fosse uma Mulher sem coração,
não Senhor!,
mas irritava-lhe o facto
de existirem Mães
que preferiam comprar cigarros cancerosos
ao invés de alimentos nutritivos e saborosos
para os próprios filhos.

Um outro facto
engraçado aconteceu,
para a alegria
do Solitariozinho,
atencioso espectador
das coisas miúdas
do Mundo dos Homens.

Quando de sua mudança
para a outra poltrona,
a Veneranda perdeu,
no anterior assento,
a sua toalhinha de mão,
um pedacinho de pano
mágico e rosado
e de muita estimação.

A Veneranda deu por falta
da tal toalhinha
e retornou ao assento
de número 39,
para recuperá-la.

Olhou e olhou
e novamente procurou,
mas a tal toalhinha
não encontrou.

A Procurada, magicamente,
já havia passado
para outras mãos,
também, rápidas e mágicas.

A pobre, coitada!,
a Discípula da Sábia!,
voltou ao seu novo assento
e, de lá, perguntou à Mãe Cigarreira
da Menininha Magrinha,
que, naquelle momento,
em um abrir e fechar de olhos,
já estava sentada
na anterior poltrona 39
(de onde ela mesma,
a Diana Caçadora Valente,
havia saído),
se ela tinha visto a tal toalhinha.

A senhora olhou, olhou,
e novamente reolhou,
com um ar praláde engraçado!,
e nada achou.

Mas, depois,
meio sem-graça, informou
à Veneranda Com Anda
dizendo-lhe
que a outra Menininha Serelepe,
que passeara anteriormente
dentro do Ônibus,
dissera-lhe
que a tal toalhinha era dela,
e a levara com ela.

Então, três vezes!!! então,
já era!!!
uma toalhinha bonitinha amarela
de estimação!!!,
que foi parar magicamente
em outras mãos!!!

Será que as mãos mágicas eram
da agitada outra menininha???
Será???

Nesse ínterim,
Durante a Tal Mágica e Barulhenta Viagem,
a Veneranda Discípula
da Sábia Sabida
resolveu visitar o
Toalete do Ônibus,
porque estava muito apertaaaaaada,
querendo livrar-se de um
dos incômodos
que só os Humanos conhecem,
no caso, esvaziar a bexiga,
replecta de urina,
sem que os outros Humanos
que viajavam no Ônibus
a vissem.

Você já deve saber,
os Humanos não são quomodo
os outros animais da Terra Rotunda,
que fazem xixi
e defecam em qualquer lugar,
sem se importar
com os olhares circundantes.

Entretanto,
o Toalete do Ônibus
já estava ocupado.

Quando a moça saiu,
uma passageira da Família Agitada
das Outras Crianças Super-Aladas
Saltitantes e Falantes,
o cheiro de cigarro canceroso
e azedume de vômito
inundou o ambiente fechado
do Ônibus Refrigerado.

A Veneranda olhou e olhou e olhou
e o seu estômago revirou.

O Toalete estava todo sujo de vômito
e guimba de cigarro de quinta qualidade.

Coitada!, a Veneranda
não pode fazer seu xixi,
e a bexiga da pobre
estava tão cheia, tão cheia!,
que o Extra-Terrestre Sensível,
conhecedor de todas as expressões
de alegrias ou angústias
dos Seres Humanos,
ficou com muita pena da Velha Senhora.

Cabisbaixa, ela voltou
para o seu assento do momento.

“Não!, não dá para entrar!
Vou esperar!,
e só me aliviarei quando
o Ônibus parar!”

A moça ainda disse a rir animada:
“Vomitei no banheiro, todinho!”

Uns quilômetros adiante,
a Família Agitada
(com suas crianças indomadas)
desceu do Ônibus,
acalmando assim
a Viagem Transtornada.

“Coitadinha da Discípula!”,
pensou o Bondoso,
“está que não se aguenta,
querendo urinar,
mas terá de esperar
o ônibus parar!”

A parada de quinze minutos,
na Cidade da Princesa Leopoldina,
foi outro Momento Incrível,
de Incríveis Acontecimentos.
A Discípula da Sábia Flamejante
correu para o Toalete
da Parada-Restaurante
do Ônibus Ambulante.

Aliviou-se.

Depois,
foi comprar um cafezinho
de sessenta centavos
(um preço absurdo,
naquelle anno de 2003!).

A Mãe Macérrima
da Menininha Magrinha
já estava tomando
o seu indispensável cafezinho.

Quomodo boa fumante,
a dita Senhora
gastou um dinheirinho suadinho,
para comprar
o seu próprio cafezinho.

Em seguida,
durante os quinze minutos
da parada do Ônibus,
fumou três cigarros cancerosos,
acendendo o segundo
na brasa do primeiro,
e o terceiro cigarro
na brasa do segundo.

A Menininha, coitadinha!,
pedia-lhe que comprasse
isto e aquilo,
para ela comer:

“Estou com fome, Mãe!”

E a Mãe respondia-lhe,
com a voz bem baixinha
e os dentes cerrados:

“Cale a boca!, enjoada!,
não tenho dinheiro,
já lhe disse!
E nós já vamos descer
na próxima Cidade!”
(Elas iam descer em Muriaé)

Antes do Ônibus retomar a Viagem,
a Mãe da Menininha foi até ao Bar
e comprou mais um maço
de cigarros cancerosos
e uma caixa de fósforos fogorosos.

Nem o Bhima
e nem a Veneranda
viram se ela comprou algo de comer
para a Menininha Falante
e Muito Magrinha.

Se comprou, eles não viram!
Eles só viram as zangas
e os dolorosos beliscões maternos
nos braços fininhos da Menininha Magrinha.

“O vício é uma danação!”,
pensaram em conjunto
a Veneranda do Monte da Conceição
e o Bhima Extra-Terrestre Bonzão.

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