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sábado, 17 de março de 2012

UM CONTO DE GUIMARÃES ROSA: A PARTIDA DO AUDAZ NAVEGANTE


UM CONTO DE GUIMARÃES ROSA: A PARTIDA DO AUDAZ NAVEGANTE

NEUZA MACHADO

Para que os meus leitores, aqueles que ainda não leram as singulares narrativas de Guimarães Rosa, possam encantar-se com a excepcional ultracriatividade de nosso escritor mineiro do século XX, publico hoje, neste meu blog, o conto A Partida do Audaz Navegante.

Na postagem de 03 de março de 2012, intitulada “Consciência da linguagem: novo dinamismo psíquico”, neste mesmo blog (
neumac.blogspot.com.br/2012/03/consciencia-da-linguagem-novo-dinamismo.html
), os leitores que me honram com suas visitas poderão ler também um artigo meu no qual me refiro reflexivamente a este conto de Guimarães Rosa.


A PARTIDA DO AUDAZ NAVEGANTE

Guimarães Rosa


Na manhã de um dia em que brumava e chuviscava, parecia não acontecer coisa nenhuma. Estava-se perto do fogo familiar, na cozinha, aberta, de alpendre, atrás da pequena casa. No campo, é bom; é assim. Mamãe, ainda de roupão, mandava Maria Eva estrelar ovos com torresmos e descascar os mamões maduros. Mamãe, a mais bela, a melhor. Seus pés podiam calçar as chinelas de Pele. Seus cabelos davam o louro silencioso. Suas meninas-dos-olhos brincavam com bonecas. Ciganinha, Pele e Brejeirinha ─ elas brotavam num galho. Só o Zito, este, era de fora; só primo. Meia-manhã chuvosa entre verdes: o fúfio fino borrifo, e a gente fica quase presos, alojados, na cozinha ou na casa, no centro de muitas lamas. Sempre se enxergam o barranco, o galinheiro, o cajueiro grande de variados entortamentos, um pedaço de um morro ─ e o longe. Nurka, negra, dormia. Mamãe cuida com orgulhos e olhares as três meninas e o menino. Da Brejeirinha, menor, muito mais. Porque Brejeirinha, às vezes, formava muitas artes.

Nesta hora, não. Brejeirinha se instituíra, um azougue de quieta, sentada no caixote de batatas. Toda cruzadinha, traçada as pernocas, ocupava-se com a caixa de fósforos. A gente via Brejeirinha: primeiro, os cabelos, compridos, lisos, louro-cobre; e, no meio deles, coisicas diminutas: a carinha não-comprida, o perfilzinho agudo, um narizinho que-carícia. Aos tantos, não parava, andorinhava, espiava agora ─ o xixixi e o empapar-se da paisagem ─ as pestanas til-til. Porém, disse-se-dizia ela, pouco se vê, pelos entrefios: ─“Tanto chove que me gela!” Aí, esticou-se para cima, dando com os pés em diversos objetos. ─“Ui, ui-te” ─ rolara nos cachos de bananas, seu umbigo sempre aparecendo. Pele ajudava-a a se endireitar. ─“E o cajueiro ainda faz flores...” ─ acrescentou, observava da árvore não se interromper mesmo assim, com essas aguaceirices, de durante dias, a chuvinha no bruar e a pálida manhã do céu. Mamãe dosava açúcares e farinhas, para um bolo. Pele tentava ajudar, diligentil. Ciganinha lia um livro; para ler ela não precisava virar página.

Ciganinha e Zito nem muito um do outro se aproximava, antes paravam meio brigados, de da véspera, de uma briguinha grande e feia. Pele é que era a morena, com notáveis olhos. Ciganinha, a menina linda no mundo: retrato miúdo da Mamãe. Zito perpensava assuntos de não ousar dizer, coisas de ciumoso, ele abrira-se à espécie de ciúmes sem motivo de quê ou quem. Brejeirinha pulou, por pirueta. ─ “Eu sei porque é que o ovo se parece com um espeto!” ─; ela vivia em álgebra. Mas não ia contar a ninguém. Brejeirinha é assim, não de siso débil; seus segredos são sem acabar. Tem porém infimículas inquietações: ─“Eu hoje estou com a cabeça muito quente ─ isto, por não querer estudar. Então, ajunta: ─“Eu vou saber geografia.” Ou: ─“Eu queria saber o amor...” Pele foi quem deu risada. Ciganinha e Zito erguem olhos, só quase assustados. Quase, quase, se entrefitaram, num não encontrar-se. Mas, Ciganinha, que se crê com a razão, muxoxa. Zito, também, não quer durar mais brigado, viera ao ponto de não aguentar. Se, à socapa, mirava Ciganinha, ela de repente mais linda, se envoava.

─“Sem saber o amor, a gente pode ler os romances grandes?” ─ Brejeirinha especulava.

─“É, hem? Você não sabe ler nem o catecismo...” Pele lambava-lhe um tico de desdém; mas Pele não perdia de boazinha e beliscava em doce, sorria sempre na voz. Brejeirinha rebica, picuíca: ─“Engraçada!... Pois eu li as 35 palavras no rótulo da caixa de fósforos...” Por isso, queria avançar afirmações, com superior modo e calor de expressão, deduzidos de babinhas. ─“Zito, tubarão é desvairado, ou é explícito ou demagogo?” Porque gostava, poetisa, de importar desses sérios nomes, que lampejam longo clarão no escuro de nossa ignorância. Zito não respondia, desesperado de repente, controversioso-culposo, sonhava ir-se embora, teatral, debaixo de chuva que chuva, ele estalava numa raiva. Mas Brejeirinha tinha o dom de apreender as tenuidades: delas apropriava-se e refletia-as em si ─ a coisa das coisas e a pessoa das pessoas. ─”Zito, você podia ser o pirata inglório marujo, num navio muito intacto, para longe, lo-õ-onge no mar, navegante que o nunca-mais, de todos?” Zito sorri, feito um ar forte. Ciganinha estremecera, e segurou com mais dedos o livro, hesitada. Mamãe dera a Pele a terrina, para ela bater os ovos.

Mas Brejeirinha punha a mão em rosto, agora ela mesma empolgada, não detendo em si o jacto de contar: ─“O Aldaz Navegante, que foi descobrir os outros lugares valetudinário. Ele foi num navio, também, falcatruas. Foi de sozinho. Os lugares eram longe, e o mar. O Aldaz Navegante estava com saudade, antes, da mãe dele, dos irmãos, do pai. Ele não chorava. Ele precisava respectivo de ir. Disse: ─“Vocês vão se esquecer muito de mim?” O navio dele, chegou o dia de ir. O Aldaz Navegante ficou batendo o lenço branco, extrínseco, dentro do indo-se embora do navio. O navio foi saindo do perto para o longe, mas o Aldaz Navegante não dava as costas para a gente, para trás. A gente também inclusive batia os lenços brancos. Por fim, não tinha mais navio para se ver, só tinha o resto de mar. Então, um pensou e disse: ─“Ele vai descobrir os lugares, que nós não vamos nunca descobrir...” Então e então, outro disse: ─“Ele vai descobrir os lugares, depois ele nunca vai voltar...” Então, mais, outro pensou, pensou, esférico, e disse: ─“Ele deve de ter, então, a alguma raiva de nós, dentro dele, sem saber...” Então, todos choraram, muitíssimos, e voltaram tristes para casa, para jantar...”

Pele levantou a colher: ─“Você é uma analfabetinha “aldaz”. ─“Falsa a beatinha é tu!” ─ Brejeirinha se malcriou. ─“Por que você inventa essa história de de tolice, boba, boba?” ─ e Ciganinha se feria em zanga. ─”Porque depois pode ficar bonito, uê!” Nurka latira. Mamãe também estava brava? Porque Brejeirinha topara o pé em cafeteiras, e outras. Disse ainda, reflexiva: ─“Antes falar bobagens, que calar besteiras...” Agora, fechou os olhos que verdes, solene arrependida de seu desalinho de conduta. Só ouvirá o rumorejo da chuvinha, que estarão fritando.

A manhã é uma esponja. Decerto, porém, Pele rezara os dez responsos a Santo Antônio, tãoquanto batia os ovos. Porque estourou manso o milagre. O tempo temperou. Só era março ─ compondo suas chuvas ordinárias. Ciganinha e Zito se suspiravam. Soltavam-se as galinhas do galinheiro, e o peru. Saía-se, ao largo, Nurka. O céu tornava a azul?

Mamãe ia visitar a doente, a mulher do colono Zé Pavio. ─“Ah, e você vai conosco ou sem-nosco?” ─ Brejeirinha perguntava. Mamãe, por não rir nem se dar de alheada, desferia chufas meigas: ─“Que nossa vergonha!...” ─ e a dela era uma voz de vogais doçuras. A manhã se faz de flores. Então, pediu-se licença de ir espiar o riachinho cheio. Mamãe deixava, elas não eram mais meninas de agarra-a-saia. De impulso, se alegraram. Só que alguém teria de junto ir, para não se esquecerem de não chegar perto das águas perigosas. O rio, ali, é assaz. Se o Zito não seria, próprio, essa pessoa de acompanhar, um meiozinho-homem, leal de responsabilidades? Cessou-se a cerração do ar. Mas tinham de vestir outras roupas quentes. ─”Oh, as grogolas!” Brejeirinha de alegria ante todas, feliz como se, se, se: menina só ave. ─“Vão com Deus!” ─ Mamãe disse, profetisa, com aquela voz voável. Ela falava, e choviam era bátegas de bênçãos. A gentezinha separou-se.

A ir lá, o caminho primeiro subia, subvexo, a ladeirinha do combro, colinola. Tão mesmo assim, os dois guarda-chuvas. Num ─ avante ─ Brejeirinha e Pele. Debaixo do outro, Zito e Ciganinha. Só os restos da chuva, chuvinha se segredando. Nurka corria, negramente, e enfim voltava, cachorra destapada ditosa. Se a gente se virava, via-se a casa, branquinha com a lista verde-azul, a mais pequenina e linda, de todas, todas. Zito dando o braço a Ciganinha, por vezes, muito, as mãos se encontravam. Pele se crescia, elegante. E ágil ia a Brejeirinha, com seu casaquinho coleóptero. Ela andava pés-para-dentro, feito um periquitinho, impávido.

No transcenso da colineta, Zito e Ciganinha colavam-se, muito às tortas, nos comovidos não-falares. Sim, já se estavam em pé de paz, fazendo sua experiência de felicidade; para eles, o passeio era um fato sentimental. Descia-se agora a outra ladeira, pegando cuidado, pelo enlameável e escorregoso, poças, mas também para não pisar no que Brejeirinha chamava de “o bovino” ─ altas rodelas de esterco cogumeleiro. Ali, com efeito, andavam bois: “o boi, beiçudo”; aí, Brejeirinha levou tombo. Ela disse que Mamãe tinha dito que eles precisavam de ter: coragem com juízo. Mas, isso, era mentirinhas. E, o que pois: ─“Agora, já me sujei, então agora posso não ter cuidado...” Correu, com Nurka, pela encosta inferior, no verdinho pasto. Pele ainda ralhou: ─“Você vai buscar um audaz navegante?” Mas, mais. Entanto, à úmida, à luz, o plano capim ─ e floriu-se: estendem-se, entremunhadas, as margaridinhas, todas se rodeiam de pálpebras.

O que se queria, aqui, era a pequena angra, onde o riachinho faz foz. Abaixo, aos bons bambus, e às pedreiras de beira-rio, ouvindo o ronco, o bufo d’água. Porque, o rio, grossoso, se descomporta, e o riachinho porém também, seu estuário já feio cheio, refuso, represado, encapelado ─ pororoqueja. ─“Bochechudo!” ─ grita-lhe Brejeirinha. Sumiu-se a última areiínha dele, sob baile de um atoalhado de espumas, no belo despropositar-se, o bulir de bolhas. Brejeirinha já olhou tudo de cor. Cravou varetas de bambu, marcando pontos, para medir a água em se crescer, mudando de lugar. Porém, o fervor daquilo impunha-lhe recordações, Brejeirinha não gostando de mar: ─“O mar não tem desenho. O vento não deixa. O tamanho...” Lamentava-se de não ter trazido pão para os peixes. ─“Peixe, assim, a esta hora?” ─ Pele duvidava. Divagava Brejeirinha: ─“A cachoeirinha é uma parede de água...” Falou que aquela, ali, no rio, em frente, era a Ilhazinha dos Jacarés. ─“Você já viu jacaré lá?” ─ caçoava Pele. ─“Não. Mas você também nunca viu o jacaré-não-estar-lá. Você vê é a ilha, só. Então, o jacaré pode estar ou não estar...” Mas, Brejerinha, Nurka ao lado, já vira tudo, em pé em volta, seu par de olhos passarinhos. Demorava-se, aliás, o subir e alargar-se da água, com os mil-e-um movimentos supérfluos.

A gente se sentava, perto, não no chão nem em tronco caído, por causa do chovido do molhado. Ciganinha e Zito, numa pedra, que dava só para dois, podiam horas infinitas; apenas, conversando ainda feito gente trivial. Pele saíra a colher um feixe de flores. Mais não chuviscava. Brejeirinha já pulando de novo. Disse: que o dia estava muito recitado. Voltava-se para a contramargem, das mais verdes, e jogava pedras, o longe possível, para Nurka correndo ir buscar. Depois, se acocora, de entreter-se, parece que já está até calçada com um sapatinho só. Mas, sem se desgachar, logo gira nos pezinhos, quer Ciganinha e Zito para ouvirem. Olha-os.

─“O Aldaz Navegante não gostava de mar! Ele tinha assim mesmo de partir? Ele amava uma moça, magra. Mas o mar veio, em vento, e levou o navio dele, com ele dentro, escrutínio. O Aldaz Navegante não podia nada, só o mar, danado de ao redor, preliminar. O Aldaz Navegante se lembrava muito da moça. O amor é original...”

Ciganinha e Zito sorriram. Riram juntos. ─“Nossa! O assunto ainda não parou?” ─ era Pele voltada, numa porção de flores se escudando. Brejeirinha careteou um “ah!” e quis que continuou: ─“...Envém a tripulação... Então, não. Depois, choveu, choveu. O mar se encheu, o esquema, amestrador... O Aldaz Navegante não tinha caminho para correr e fugir, perante, e o navio espedaçado. O navio parambolava... Ele, com o medo, intacto, quase nem tinha tempo de tornar a pensar demais na moça que amava, circunspectos. Ele só a prevaricar... O amor é singular...”

─ “E daí?”

─“A moça estava paralela, lá, longe, sozinha, ficada, inclusive, eles dois estavam nas duas pontinhas da saudade... O amor, isto é... O Aldaz Navegante, o perigo era total, titular... não tinha salvação... O Aldaz... O Aldaz...”

─ “Sim. E agora? E daí?” ─ Pele intimava-a.

─ “Aí? Então... então... Vou fazer explicação! Pronto. Então, ele acendeu a luz do mar. E pronto. Ele estava combinado com o homem do farol... Pronto. E...”

─ “Nã-ão. Não vale! Não pode inventar personagem novo, no fim da estória, fu! E ─ olha o seu “aldaz Navegante”, ali. É aquele...”

Olhou-se. Era: aquele ─ a coisa vacum, atamanhada, embatumada, semi-ressequida, obra pastoril no chão de limugem, e às pontas dos capins ─ chato, deixado. Sobre sua eminência, crescera um cogumelo de haste fina e flexuosa, muito longa: o chapeuzinho branco, lá em cima, petulante se bamboleava. O embate e orla da água, enchente, já o atingiam, quase.

Brejeirinha fez careta. Mas, nisso, o ramilhete de Pele se desmanchou, caindo no chão umas flores. ─ “Ah! Pois é, é mesmo!” ─ e Brejeirinha saltava e agia, rápida no valer-se das ocasiões. Apanhara aquelas florinhas amarelas ─ josés-moleques, douradinhas e margaridinhas ─ e veio espetá-las no concrôo do objeto. ─ “Hoje não tem nenhuma flor azul?” ─ ainda indagou. A risada foi de todos, Ciganinha e Zito bateram palmas. ─“Pronto. É o Aldaz Navegante...” ─ e Brejeirinha crivava-o de mais coisas ─ folhas de bambu, raminhos, gravetos. Já aquela matéria, o “bovino”, se transformava.

Deu-se, aí, porém, longe rumor: um trovão arrasta seus trastes. Brejeirinha teme demais os trovões. Vem para perto de Zito e Ciganinha. E de Pele. Pele, a meiga. Que: ─“Então? A estória não vai mais? Mixou?”

─“Então, pronto. Vou tornar a começar. O Aldaz Navegante, ele amava a moça, recomeçado. Pronto. Ele, de repente, se envergonhou de ter medo, deu um valor, desasssustado. Deu um pulo onipotente... Agarrou, de longe, a moça, em seus abraços... Então, pronto. O mar foi que se aparvalhou-se. Arres! O Aldaz navegante, pronto. Agora, acabou-se, mesmo: eu escrevi ─”Fim”!”

De fato, a água já se acerca do “Aldaz Navegante”, seu primeiro chofre golpeava-o. ─“Ele vai para o mar?” ─ perguntava, ansiosa, Brejeirinha. Ficara muito de pé. Um ventinho faz nela bilo-bilo ─ acarinha-lhe o rosto, os lábios, sim, e os ouvidos, os cabelos. A chuva, longe, adiada.

Segredando-se, Ciganinha e Zito se consideram, nas pontinhas da realidade. ─“Hoje está tão bonito, não é? Tudo, todos, tão bem, a gente alegre... Eu gosto deste tempo...” E: ─“Eu também, Zito. Você vai voltar sempre aqui, muitas vezes?” E: ─“Se Deus quiser, eu venho...” E: ─“Zito, você era capaz de fazer como o Audaz Navegante? Ir descobrir os outros lugares? E: ─“Ele foi, porque os outros lugares ainda são mais bonitos, quem sabe?...” Eles se disseram, assim eles dois, coisas grandes em palavras pequenas, ti a mim, me a ti, e tanto. Contudo, e felizes, alguma outra coisa se agitava neles, confusa ─ assim rosa-amor-espinhos-saudade.

Mas, o “Aldaz Navegante”, agora a água se apressa, no vir e ir, seu espumitar chega-lhe já re-em-redor, começando a ensopação. Ei-lo circunavegável, conquanto em firme terrestreidade: o chão ainda o amarrava de romper e partir. Brejeirinha aumenta-lhe os adornos. Até Ciganinha e Zito pegam a ajudar. E Pele. Ele é outro, colorido, estrambótico, folhas, flores. ─“Ele vai descobrir os outros lugares...” “─Não, Brejeirinha. Não brinca com coisas sérias!” “─Uê? O quê?” Então, Ciganinha, cismosa, propõe: ─“Vamos mandar, por ele, um recado?” Enviar, por ora, uma coisa, para o mar. Isso, todos querem. Zito põe uma moeda. Ciganinha, um grampo. Pele, um chicle. Brejeirinha ─ um cuspinho; é o “seu estilo”. E a estória? Haverá, ainda, tempo para recontar a verdadeira estória? Pois:

─“Agora, eu sei. o Aldaz Navegante não foi sozinho; pronto! Mas ele embarcou com a moça que ele amavam-se, entraram no navio, estricto. E pronto. O mar foi indo com eles, estético. Eles iam sem sozinhos, no navio, que ficando cada vez mais bonito, mais bonito, o navio... pronto: e virou vagalumes...”

Pronto. O trovão, terrível, este em céus e terra, invencível. Carregou. Brejeirinha e o trovão se engasgam. Ela iria cair num abismo “intacto” ─ o vão do trovão? Nurka latiu, em seu socorro. Ciganinha, e Pele e Zito, também, vêm para a amparar. Antes, porém, outra fada, inesperada, surgia, ali, de contraflor.

“─Mamãe!”

Deitou-se-lhe ao pescoço. Mamãe aparava-lhe a cabecinha, como um esquilo pega uma noz. Brejeirinha ri sem til. E, Pele:

─“Olha! Agora! Lá se vai o “Aldaz Navegante”!”

“─Ei!”

“─Ah!”

O Aldaz! Ele partia. Oscilado, só se dançandoando, espumas e águas o levavam, ao Aldaz Navegante, para sempre, viabundo, abaixo, abaixo. Suas folhagens, suas flores e o airoso cogumelo, comprido, que uma gota orvalha, uma gotinha, que perluz ─ no pináculo de uma trampa seca de vaca.

Brejeirinha se comove também. No descomover-se, porém, é que diz:

“─Mamãe, agora eu sei, mais: que o ovo só se parece, mesmo, é com um espeto!”

De novo, a chuva dá.

De modo que se abriram, asados, os guarda-chuvas.


(Conferir: ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. 5.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969: 115-123)


VOCABULÁRIO:

azougue =
pessoa muito viva e esperta;
socapa = disfarce, fantasia
tenuidades = delicadezas, sutilezas
extrínseco = exterior; não pertencente à essência de uma coisa
assaz = bastante, suficientemente
bátegas = aguaceiro forte e grosso
subvexo = sub + vexo = molestado, maltratado, humilhado, afligido
combro = corruptela: calombo
coleóptero = insetos, larvas, pragas dos vegetais
transcenso = superior, excedido
refuso = refundido, transformado
escrutínio = exame atento, minucioso, apuramento
vacum = gado vacum
embatumada = acumulada, demasiadamente cheia
eminência = elevação, altura
concrôo = talvez, corruptela de “concretude” ou “com coroa”, “no alto” do objeto = lugar de coroação
estricto = estrito = rigoroso, exato
viabundo = via (caminho) + vagabundo


sábado, 3 de março de 2012

CONSCIÊNCIA DA LINGUAGEM: NOVO DINAMISMO PSÍQUICO


CONSCIÊNCIA DA LINGUAGEM: NOVO DINAMISMO PSÍQUICO

NEUZA MACHADO

“Uma imagem literária imitada perde a sua virtude de animação. A literatura deve surpreender. Certamente, as imagens literárias podem explorar imagens fundamentais – e nosso trabalho geral consiste em classificar essas imagens fundamentais –, mas cada uma das imagens que surgem sob a pena de um escritor deve ter a sua diferencial de novidade. Uma imagem literária diz o que nunca será imaginado duas vezes. Pode-se ter algum mérito em recopiar um quadro. Não se terá nenhum em repetir uma imagem literária” (Bachelard).

Em meados do século XX, o escritor mineiro Guimarães Rosa surpreendeu os meios intelectuais brasileiros, valendo-se de uma linguagem fora dos padrões habituais para desenvolver a sua inigualável arte literária. Naquele momento, Guimarães Rosa conseguiu a sua diferencial de novidade, recriando a antiga técnica de contar estórias exemplares à moda do sertão de Minas, mas retiradas criativamente de seu imaginário particular, singularíssimo. Graças a essa diferente forma de narrar, extraiu das recordações íntimas o aspecto altivo do homem sertanejo, sustentado pelo primitivismo de uma existência alheada dos valores modernos. O escritor, de origem sertaneja – rejeitando os valores da modernidade, as regras linguísticas formais, as imagens mascaradas (limitadas), e buscando o linguajar primordial (provocador), a imaginação material (reprodutora) aliada à imaginação criadora (dinâmica ) –, tornou-se um ativo modelador de um universo diferente. Não quis apenas contemplar o sertão da infância, recriou-o, domou a matéria terra e venceu a natureza.

Guimarães Rosa, em suas primeiras narrativas, uniu terra e água em uma massa perfeita. Às vezes, sobressaindo-se mais a terra, outras, a água. Entretanto, se tivesse registrado apenas o seu ato de modelar o sertão da infância, por intermédio da imaginação reprodutora, não teria legado aos pósteros a sua indiscutível arte ficcional. Desenvolvendo o ato de bem ver a realidade sertaneja, o escritor mineiro explorou as imagens reprodutoras, fixas, transformando-as em imagens dinâmicas, próprias da ficção-arte. Por meio dessa exploração de imagens interativas soube atingir o domínio de uma imaginação fundamentalmente criadora, quando rejeitou a cultura realista e passou a bem sonhar o seu passado inesquecível, “permanecendo fiel ao onirismo dos arquétipos que [estavam] enraizados [em seu] inconsciente” (conferir: Gaston Bachelard)

Nas recordações da infância, momentos de pura inspiração o impelem à modelação de trechos narrativos de alta criatividade. Por exemplo, reconstituindo as façanhas infantis de um grupo de crianças, em “A partida do audaz navegante” (Primeiras Estórias), propicia-nos um retorno ao regaço materno, seja qual for a significação que queiramos dar a esta expressão: retorno ao útero materno, retorno aos braços carinhosos da mãe, retorno às origens, ou, mesmo, retomada dos valores puros da terra/sertão.

Bachelard nos alerta:

“Afastar a criança da cozinha é condená-la a um exílio que a aparta dos sonhos que nunca conhecerá. Os valores oníricos dos alimentos ativam-se ao se acompanhar a preparação. Quando estudarmos os sonhos da casa natal, veremos a persistência dos sonhos da cozinha. Esses sonhos mergulham num feliz arcaísmo. Feliz o homem que, quando criança, “rodou em volta” da dona da casa” (Gaston Bachelard)

Nesta narrativa, que assinala um dos mais inspirados momentos criativos de Guimarães Rosa, há um retorno ao regaço materno revelando o homem que, em criança, conheceu as delícias feitas em fogão de lenha. O sertão roseano é o invólucro do sonho da casa natal, repleno de lembranças e recordações. Assim, por exemplo, uma certa manhã de chuva (água) mistura-se com a terra, formando a massa de lembranças imperecíveis. Desse composto de água e terra evola-se – ficcionalmente – o cheiro dos alimentos de outrora somado às recordações do passado infantil, passado em que o menino de então observava sua mamãe mandando “Maria Eva estrelar ovos com torresmos e descascar os mamões maduros”. Os sonhos da cozinha estão presentes e vivos nas lembranças (matéria ficcional) e recordações (matéria lírica) do narrador de antigas experiências infantis. Mas, o sonhador das vivências inesquecíveis, agora, já se aliou definitivamente à imaginação criadora e consegue transmitir ficcionalmente os inumeráveis planos de sua consciência singular.

Nos sonhos da casa natal, terra, chuva, cozinha e lama se misturam para realçar a figura materna. Num meio repleto de primitividade, mamãe é a mais bela, a melhor, e “cuida com orgulhos e olhares as três meninas e o menino”.

O Artista – aquele que saiu do sertão dos valores primitivos e adquiriu inúmeros talentos na moderna sociedade brasileira – remodela a figura materna por intermédio de um olhar infantil. Não estaríamos violando regras teórico-críticas, apoiados que estamos na ideia de compreensão do texto literário – fenomenologia –, se afirmássemos que é ele – o Artista Ficcional Guimarães Rosa – o menino que admira a mãe, e que esta admiração só se revelará valiosa mediante a percepção infantil aliada à criatividade do adulto. Graças à percepção infantil aquecida pelo fogo familiar, permanentemente aceso nas lembranças do passado, iluminando as recordações do adulto, a voz de mamãe se transforma em “uma voz de vogais doçuras e a manhã se faz de flores”.

No início, o elemento fogo se sobressai para o cozimento da massa formada pela terra e pela água. Na cozinha das recordações, os alimentos se tornam saborosos, e a doce voz materna também se transforma em alimento, nutrindo a criança, oferecendo-lhe condições de desenvolver o corpo e os sonhos.

A cozinha é o gineceu do sertão roseano e a sua criação literária só se tornou possível graças a essa íntima e doce convivência com a terra e a água. Em seus devaneios de dilatação da massa que irá ao forno da criação literária, o criador sertanejo de um mundo ficcional já propenso às mudanças estilísticas inerentes ao século XX (sustentado pelas lembranças de uma infância feliz), em que os valores poético-líricos se sobressaem, registra a imagem imperecível de mamãe dosando açúcares e farinhas para a feitura de um bolo, enquanto as crianças entrefiam a estória do audaz navegante, descobridor de lugares além do cotidiano.

Esta narrativa, oriunda dos sonhos dilatados do amanhecer – dos devaneios da vontade de um sonhador-modelador que sabe trabalhar sua criatividade ficcional –, é uma sensível massa de palavras bem dosadas. O estilo inconfundível de Guimarães Rosa se faz presente nesta aparentemente simples narrativa, mas, em suas camadas ocultas há uma profunda natureza complexa. “As verdadeiras fontes do estilo são fontes oníricas. Um estilo pessoal é o próprio sonho do ser” (Bachelard). Sob a proteção do olhar infantil, o inspiradíssimo narrador roseano acompanha os movimentos de mamãe, transforma Pele – a irmã – em uma criança diligentil, além de dar forma a uma imagem ímpar: Ciganinha – a outra irmã – lendo um livro sem virar a página. Percebe-se, neste discurso inovador, os valores imaginários da criança em seu mais alto grau. A massa perfeita encontrou seu elemento individualizador, pode transformar o audaz navegante e seu navio – núcleo de uma sub-estória dentro da narrativa – numa “coisa vacum, atamanhada, embatumada, semi-ressequida, obra pastoril no chão de limugem, e às pontas dos capins-chato deixado”. Um cogumelo branco se transforma no audaz navegante, bamboleando em cima da tal coisa – o navio –, que está prestes a ser tragada pela enchente produzida pela chuva anterior.

O escritor, agora vivenciando o cogito três da “consciência singular” (Bachelard), possui total conhecimento da linguagem infantil. Graças a essa nova convivência com um plano de difícil acesso, próximo das “inconsequências quânticas” (idem), a narrativa de um simples dia de chuva atrelado ao universo infantil transmite um novo “dinamismo psíquico” (idem). A imaginação material – matéria terrestre: o sertão composto de pedras, madeiras, metais e gomas – associa-se à imaginação das matérias inconsistentes e móveis – a água, o fogo e o ar –, reprodutora da percepção e da memória. Desta associação, surge a imaginação criadora do Artista Ficcional sertanejo, retirada de sua própria solidão do homem do século XX há muito apartado dos valores primários. O Criador Literário refaz a imaginação infantil, uma imaginação intermediária entre as pulsões inconscientes e as primeiras imagens que afloram na consciência. Surge, assim, um discurso diferente, insólito, renovando os arquétipos inconscientes da criança, aquela que reinventa o itinerário de aventuras do Audaz Navegante.

Inspirado pela linguagem inerente à criança, o narrador roseano remodela a linguagem ficcional, enriquecendo-a com as recordações da infância. A narrativa surpreende e encanta, porque o leitor refaz também os primórdios de seu próprio passado. Todas as mamães se transformam em fadas, surgindo inesperadamente – de contra-flor –, para socorrerem seus filhinhos.

O sonhador de um imaculado sertão (perfeição = matéria épica digladiando com a forma ficcional do século XX), distante temporalmente de sua realidade imediata, reinventa seu infantil passado inesquecível, as possibilidades perdidas, os sonhos revividos nos momentos de solidão.

“No sonho, as palavras reencontram amiúde o seu sentido antropomórfico profundo. Aliás, pode-se observar que a modelagem inconsciente não é coisista; é animalista. A criança entregue a si mesma modela a galinha ou o coelho. Cria vida” (Bachelard).

As palavras remodelam o homem e a vida, refazem as imagens do inconsciente, dão substância aos pensamentos e, aqui, dão substância aos pensamentos de um criador ficcional que se apossa engenhosamente do universo infantil. A modelagem inconsciente, retirada dos sonhos da infância, faz o leitor-eleito retornar às alegrias primeiras da descoberta da vida. Nessa região psíquica, entre as pulsões inconscientes e as primeiras imagens da consciência infantil, o narrador-mirim de um sertão imaculado, avatar do narrador moderno (submetido diariamente a experiências comunitárias conflitantes), recria seu antigo mundo familiar, transformando uma manhã de chuva normal em uma narrativa onírica e poética, propulsora de profundas meditações para esse mesmo leitor.

Para a compreensão do artigo de Neuza Machado, ler:
ROSA, João Guimarães. “A partida do audaz navegante”. Primeiras Estórias. 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.

sexta-feira, 2 de março de 2012

PASSAGES DE PARIS 6 - O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE


PASSAGES DE PARIS No 6 - O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE

NEUZA MACHADO

Um excerto de meu ensaio analítico-interpretativo O Fogo da Labareda da Serpente – sobre a obra de Rogel Samuel O Amante das Amazonas – foi publicado na Revista Francesa PASSAGES DE PARIS No 6.

Para a leitura do excerto da Revista Francesa, clique em http://www.apebfr.org/passagesdeparis/editione2011/articles/pdf/PP6_revision1.pdfssagesdeparis/editione2011/articles/pdf/PP6_revision1.pdf

Para a leitura do livro O Amante das Amazonas de Rogel Samuel, clique em http://historiadosamantes.blogspot.com/2009/04/o-amante-das-amazonas.html



Para a leitura do livro O Fogo da Labareda da Serpente, clique em http://ofogodalabareda.blogspot.com/


ou




quinta-feira, 1 de março de 2012

AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS: UMA AVENTURA QUASE QUASE A TERMINAR - 22.3


AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS: UMA AVENTURA QUASE QUASE A TERMINAR - 22.3

NEUZA MACHADO

De Verdade!,
O Bhima Estrelante
Não Vivia Longe
De Sua Amiga Vagante,
Porque Era
O Diligente Protector
Da Animada Senhora
Do Longo Vestido
Encarnado
Brilhante,
E, Graças a Ela!,
Naquelle Final
De Século XX
E Início do XXI,
Graças às Leituras
Por Certo! Profundas
Da Dita Bendicta,
Ele Pode Movimentar
A Vimana Voadora
Super Bacana
Por Todos os Lados
Do Universo Estrellado,
E Anotar
Todos os Acontecimentos
Do Mundo Rotundo
E do Mundo Encantado,
E Si Pode Maravilhar
Com as Belezas
Do Brasil Varonil,
E Pode Chorar de Alegria
E Rir de Tristezas Doídas,
PorQue Assim
Era a Veneranda
Veirota Juvenil,
E Ele Só Lograva Existir
Graças
À Existência Agitada,
Terráquea e ALuada,
Da Diana Maria Senil
Caçadora de Aventuras Mil
Pelas Terras Auríferas
Do Brasil Varonil.

Aquela LigAcção InVisível
Com a Diana da Serra
Ou Diana DuMar
Maluca Exemplar
Era Uma Espécie
De Intrigante Avatar.

Naquelles Annos
Da Vida Terrena
Do Bhima,
Voando na Vimana
Pel’os Céus
Dos Diversos Brasis,
A Veneranda Feliz
Tornara-se
Por Certo!
Sua Força Motriz.

O Facto era que
A Vida Imortal
De Extra-Terrestre
Bonzinho e Cordial
Necessitava Sempre
Da Companhia
De Uma Determinada
E Valente
E Corajosa Mulher
Impaciente,
Para Guiá-lo
Nas Sendas
De Aventuras Sem-Fim
E de Muitos RePentes.

Excêntricas
Mulheres,
Ricas e Pobres,
Desde que
Aportara na Terra
Dos Homens Actuantes
Pobres ou Ricos Esnobes
Do Incerto Porvir,
Serviram-Lhe
De Incentivo,
Para que o Seu Viver
De Extra-Exilado
Em um Planeta
Diferente do Seu,
Muito Amado!!!,
Pudesse Florir.

Naquelles Meados
Do Século XX Passado,
Desde a Morte
De Iaiá Julieta Garcia
Machado de Assis,
A Quem o Bhima
Se Affeiçoara,
Por Demais da Conta!,
A Nova Escolhida
Fora a Menininha
Dianna Magrinha
De Corpinho de Miss,
A Qual,
Com o Passar
Dos Annos,
Se TransFormara
Na Venerável
Dianna Gordinha
Do Aquilino Nariz.

E Não Foi Que,
N’Aquelle Momento,
A Velhusca já estava
Se Sentindo
Cansada de Viajar,
Seis Horas e Meia,
De Ônibus MileUm,
Todas as Semanas,
PrAláePrAcá,
E Já Estava Aprontando
Mais Uma das Suas?!!!

A Veneranda,
Muito Esperta!!!,
Mantinha
O Emprego
Alo(u)cado
E Firmado
Na Cidade do Rio,
Às Segundas
E Terças,
E ReServaVa
Os Outros Dias
Da Semana Bacana
Para Trabalhos
Vagantes
Beeeeeeeem Distantes
Da Tal Cidade
Do Rio Encantado,
Só Para Correr Atrás
De Aventuras
Mirabolantes
Sem-Fim
E Acontecimentos
Pr’ALáDe
Inesperados,
E, Assim,
Conhecer
Cada Cantinho
Bonitinho
Escondidinho
Do Seu País
Adorado.

Naquelle Final de 2003,
A Veneranda Estava
A Despedir-Se
Do Trabalho Passante
E, Já Muito Actuante!,
Ao Mesmo Tempo,
Itinerante!,
Procurava
Um Outro Lugar,
Que Lhe Permitisse
Novas Aventuras
Mui Interessantes
Achar.

Então!,
Pois Acredite
Neste Meu ReConto,
Meu Caríssimo Leitor:
De Facto!,
O Bhima Intergalático Protector
Ficou a ReGalar-Se
Com a Tal DeCisão
Da Veneranda Andarilha
De Bom Coração,
DeCisão Aquella Que
Diga-se de Passagem!,
Com Certeza!,
Certíssima!,
Tinha Por Trás
As Mãozinhas Supremas
Do Supremo Senhor
De Inigualável Valor.

E, Assim,
Do Mesmo Jeitinho
Que Vou a ReContar-Lhe,
RePet(d)indo Sempre,
Para Que Você
Não Perca
O Fio De Ariadne
Desta Meada EnRolada!,
Naquelle Dia,
O Bhima Estivera
A Observar a Diana,
De Perto
Evidentemente!,
Enquanto
Ela Tagarelava
Alegremente
Com a Venerável
Väjira Diamante
Dos Inúmeros
E Bellos Mantos
Incandescentes.

Quomodo Estava
A Contar-Lhe,
As Duas,
Naquella Manhã Radiosa
De Final de Dezembro
Do Anno de 2003,
Enquanto Tomavam
Chá Indiano
E DeGustavam
Bolachinhas Francesas
E Broínhas Mineiras
De Amarelinho
Fubá Sertanejo
De Bom-Paladar,
Estavam a ReCordar
As Aventuras,
Sabe de Quem?!!!
Isto Mesmo!!!
Já Lhe Disse!
Estavam a Falar
De Bhima
Guerreiro Exemplar.
E Ele Estava Bem Ali,
Bem Pertinho!,
A Ouvir Toda a Conversa
Das Duas CoMadres
A Tagarelar Sem Parar.

Então?,

Então QuoModo
Já Vou ReContar-Lhe,
Foi Aí Que
A Veneranda ReVelou
À Diana
A Presença do Sentinela
Entre Elas.

Então,
Do Mesmo Jeitinho
Que Vou a ReContar-Lhe,
Já Lhe Disse?!!!,
E RePito!!!,
O Bhima Extraordinário Viu
A Veneranda e a Sábia
Muuuuuuito Animadas,
Conversando, Contentes!,
A ReLembrarem
Os Grandes Acontecimentos Históricos
Do Mundo Rotundo
E TamBém
Do Mundo Profundo.

E o Mais Interessante
Nesta Estória Toda
Que Estou a Narrar-Lhe
É Que,
Justo no Momento
Em Que o Bhima Estava
A ReDuplicar
As Grandes Orelhas
De Extra-Terrestre
Ouvidor Exemplar
E a as Mãozinhas Verdinhas
De Escrevinhador Escritor Popular
De Suas Próprias
Extraordinárias Aventuras
Na Terra dos Homens
Sem-Rumos
A Coçar,
Para Ouvir Melhor
A Conversa Entre as Duas,
Pois Então,
Oh! Surpresa!!!,
Repito-Lhe!,
A Sábia Sabida
Sabedora de Sábios Contos
E Recontos
Do Passado Glorioso
E Belicoso
Dos Homens Erectos
Mas Infelizmente Sem-Rumos
Estava a Falar
D’As Aventuras do Bhima
Na Terra Encantada e Divinal
Do Brasil Varonil
Incrível Lugar
.

Quomodo Já Lh’Afirmei,
O Solitariozinho Ficou
Muito Envaidecido!
Ele Não Sabia
O Quanto
Era Amado
E Querido
Pela Sábia Do Longo
E Esvoaçante
E Deslumbrante
Vestido Florido.

E Só Para Você
Não Esquecer-Se
Desta Estória
Contada e ReContada,
Ela Justamente Dizia
À Diana Caçadora Valente
De Aventuras Inéditas
E Mui Transcendentes:
Ocê Não Sabe,
Ó Discípula
Diana Valente!,
Mas o Bhima Está Aqui,
Bem Pertinho da Gente!,
Escuitando Toda
A Nossa Conversa
Incessante!
Ocê Sabe
Ou Não Sabe
Que Sou Vidente
E Otomante?


Ao Ouvir as Palavras
Da Sábia Mineira,
QuoModo
Já InFormei-Lhe
Mui Anteriormente!,
O Bonitinho Levou
Um Susto D’Aquelles,
E Um Pouco Sem Jeito
Pensou Diligente:
Será Que Estou
A TransFormar-Me
Em Terráqueo Sensível,
Ou Será Que Já Não Sou
Um Extra-Terrestre InVisível?


Assim,
Pensando Muuuuuito!,
ReSolveu Voltar
Bem DePressinha
Para a Sua Vimana
Brilhante
Limpinha,
E Voou
De Volta
Ao Recanto de Luz.

Em Lá Chegando,
Abriu Todas as Janelas
Da Vimana Bacana,
Para Entr’Ar
Bastante Ar,
E a Sala-Dormitório-Escritório Arejar,
Colocou Um Compact Disc
Do Zéca Pagodinho Imortal
Cantor Divinal
Brasilês Maioral
No Seu UltraChic
CD Player
De Última Geração De 2003,
Comprado na Cidade
Dos CariocJônios Em Acção,
E Ficou Ali,
Por Muuuuuuuito Tempo!!!,
Enlevado!!!,
A Ouvir a Canção,
Cantada
Com Muuuuuuuta Paixão,
Pelo Intérprete Favorito
Daquella Genial Geração:

"Deeeixa a Vida me levar!,
Vida leeeva eu!
Deeeeeixa a Vida me levar!
Vida leeeva eu!
Sou feliz e agradeeeço
por tudo o que Deus me deu!
Deeeeeeixa a Vida me levar!
Vida leeeva eu!
Deixa a Vida me levar!

Vida leeeeeeva eu!"

Então,
Só Para Finalizar
O Aqui ReLatado,
O Bhima,
Muito Emocionado
Com a Letra
Da Encantadora Canção,
À Moda dos Humanos
Brasileiros
Altaneiros
Caçadores
Do Invisível Leão,
ReSolveu,
Ele TamBém,
Agradecer
Ao Supremo Senhor
De Grande Coração
Por Permitir-Lhe
Tão Maravilhosa
Satisfação.

Ali, no Território Divino
Do Terral Brasileiro,
Ele Não Era Estrangeiro!,
Não!
Era Querido Por Todos,
E Era Muuuuuuito Bom!!!,
Bom DeMaaaaaais da Conta!!!,
Viver a Sua Função
De Sentinela
Do Espaço Sideral
Justamente
Na Terra
Dos Homens
Do Brasil Cordial.

E, Principalmente,
Fora Uma Graça Suprema
Viver Por Uns Tempos
Naquella Serra Divinal
Das Minas Gerais
Dos Mineiros Altaneiros
Sensacionais,
Bem Pertinho
Do Magnífico
E Sagrado
Alto da Conceição
Dos Intrépidos Ancestrais.

Enfim,
Era o Seu Dever
Acompanhar
A Diana Maria
Do Sorriso Fermoso,
E ele Iria Acompanhá-la
Sempre!,
E,
QuoModo Um Diligente
Anjo de Guarda Amoroso,
Iria Protegê-la
Nas Perigosas Pelejas
Do Insólito Viver Glorioso.

Assim,
Pensando em Novas
Prováveis Aventuras
Da Veneranda Diana
Naquelle País Tropical
Sem-Igual,
O Bhima Ficou a Ouvir,
Naquelle Final de 2003 Crucial,
O Compact Disc
Do Divo Zéca Pagodinho
Cantor Carioquês,
Acompanhando
O Ritmo da Música
Do Popular Brasilês-Português,
A Dançar
E a Cantar:
Deixa a Vida me levar!
Vida leva eu!
Deeeixa a Vida me levar!
Vida leva eu!
Deeeixa a Vida me levar!
Vida leeeva eu!
Sou feliz e agradeeeço
por tudo o que Deus me deu!!!!!
"

A
ssim
termina
a história do
Bhima SentinelA
do Grã Espaço Sideral
escrita em um 2003 Sem-Igual

***********

entrou per uma porta e
voou no descampado
uma vimana limpinha
para um outro narrado
até lá até lá até lá

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