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segunda-feira, 25 de março de 2013

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: A ESCOLA DE DONA GUIOMAR NO ARRAIAL DO CHORO



A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: A ESCOLA DE DONA GUIOMAR NO ARRAIAL DO CHORO


ANTÔNIO DE SOUSA COSTA

 

 

 

Eu conheci o Arraial do Choro, cujo nome próprio é Santo Antônio do Arrozal, numa época muito promissora. Tinha uma Escola Pública Estadual, com uma professora de primeira classe por nome dona Guiomar Rodrigues de Amorim, casada com o senhor Caetano, que era o escrivão de paz. Ainda me lembro dos nomes dos filhos do casal, que já frequentavam as aulas. O mais velho dos irmãos, Wilson, depois, Marica, Joca e Lourdinha. Havia mais dois pequenos, que não frequentavam as aulas.

 

Dona Guiomar ensinava até o quinto ano. Depois, o aluno saía preparado para entrar no Ginásio. A casa da Escola era pequena, mal dava pra uns sessenta a oitenta alunos. Tinha duas fileiras de bancos. Na frente, os meninos mais atrasados, os mais adiantados ficavam na retaguarda. Ao lado, um quadro negro. Dona Guiomar ficava atrás de uma mesinha, sentada, e, em cima da mesinha, uma vara de marmelo e uma régua de uns trinta centímetros. Ela tanto batia com a vara, como batia com a régua. Pra ela, não tinha tamanho de aluno, o aluno podia estar com quinze ou dezesseis anos, se precisasse apanhar, ela batia, até fazer vergão. Na hora de estudar, era o maior silêncio, ninguém podia nem cochichar.

 

Lembro-me do primeiro dia em que eu entrei na Escola. Ela passou o a b c pra mim, para eu estudar em silêncio, eu comecei lendo baixo, mas, ela ouviu o meu cochicho e veio silenciosamente, até onde eu estava sentado, e deu de leve em minha cabeça com a vara de marmelo, e disse: “– Estuda, mais baixo!”

 

Além do primeiro dia de aula em que ela me corrigiu, eu me lembro de um outro dia, em que ela me deu umas varadas. Nesse dia, eu precisei mesmo de apanhar. Eu já estava bem adiantado, já fazendo conta de multiplicar, conta passada no quadro negro, bem adiantado mesmo. Não sei bem porque eu esquentei a cabeça, e não havia jeito de eu terminar a conta. O erro estava sobre um número, e eu não conseguia resolver a conta. Dona Guiomar estava me observando, e quis me ajudar, e disse: “– Antônio Costa, você está tomando muito café. O erro da conta está no número tal”. Ela dizia até o número, onde estava o erro, e eu, nem assim, entendia onde estava o erro. Aí, ela já veio com a vara na mão, e deu-me umas varadas, e dizendo: “– Deixa de tomar muito café, pois nem eu falando qual o número do erro, você não acerta?!”

 

Eu só tive três anos de Escola Pública. Fiquei só com o terceiro ano, porque dona Guiomar mudou-se para o Espírito Santo, e nunca mais tivemos notícia dela. Na véspera da mudança sair do Choro com destino a Alegre, cidade do Espírito Santo, meu pai levou eu e um meu irmão, chamado Eurico, que também fora aluno de dona Guiomar, para que nós nos despedíssemos da professora e de sua família. Ela disse a meu pai: “– Senhor José, dos dois filhos do senhor, eu levo um sentimento”. E meu pai perguntou: “– Pode me dizer qual é o sentimento?” E ela respondeu: “– O sentimento que eu levo é de não deixar o Antônio muito adiantado, o sentimento que eu levo do Eurico, é de não poder tirar esta buta dele”. 

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