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sábado, 23 de março de 2013

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: RECORDANDO AS CAMPANHAS POLÍTICAS DAQUELE TEMPO



A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: RECORDANDO AS CAMPANHAS POLÍTICAS DAQUELE TEMPO


ANTÔNIO DE SOUSA COSTA
 
 

 

 

Voltando à Fazenda Cachoeira dos Pereiras. Na década de 1910, quase no final, não existia automóvel, nem estrada. O transporte era feito em carro de boi e em lombo de burros. Até mesmo os homens daquela época faziam as campanhas políticas montados em animais. Até mesmo os doutores enfrentavam aquelas estradas poeiradas no tempo da seca. E, em tempos de chuvas, atoleiros, ladeiras escorregadias, subida de morros e descida, por estradas lamacentas, pontes esburacadas, enchentes, quando havia chuvas fortes, que, às vezes, interrompia a passagem.

 

Eu era bem criança, mas recordo bem daquele tempo em que os doutores faziam a campanha política montados em burros, cavalos, e bem prevenidos. Os animais com ferraduras pregadas nos cascos, que era para não escorregar. Os arreios bem compostos, com peitoral prateado, freio com cabeçada prateada, rabicho prateado, um coxinilho grande por cima do arreio, e, os homens bem vestidos, com trajes de viajante, chapéu de lebre, com aba grande, na cabeça, paletó de caxemira, com calça-culote de brim amarelo, um lenço no pescoço com duas pontas bem compridas descendo até ao peito, calçados com botina de pelica e perneira, que era para proteger a calça-culote. Era assim que os políticos faziam suas campanhas.

 

Da cidade de Carangola até ao Alto-Carangola devia ter de oito a dez quilômetros, mas, os políticos não iam diretamente, eles iam parando, tanto nos Arraiais como, também, em Fazendas, e, até, em casa de pobre eles passavam.

 

Nós morávamos perto da estrada onde eles passavam, e nós ficávamos apreciando eles em fileira, até na virada do morro. No pé do morro, morava tio Marcolino, que muito mal assinava o nome, mas era um homem fanático por política. Sabendo que eles iam passar por ali, tio Marcolino prevenia a sua casa humilde, e ficava esperando. Quando eles iam passando, o tio Marcolino convidava-os para chegar, pra tomar um café, e eles chegavam. Não era pouca gente não. Entre doutores, e empregados, e cabos-eleitorais, devia ter umas quinze a vinte pessoas. Como eles encontravam ali, naquela casa humilde, um bom lanche: café simples, café com leite, pão de sal, biscoito de polvilho, água fresca pra beber, uma bica d’água em correnteza, aonde eles lavavam as mãos, o rosto, era tão grande a satisfação, que eles faziam até discurso naquela casa, talvez, seja por força da cana, pois o tio Marcolino não ficava sem uma cachaça da boa.

 

Dali, eles seguiam para um Arraial pequeno, aonde tinha um turco muito rico, por nome Luiz de Sales, que hospedava todos os viajantes que tratavam de negócios. E, também, em época de eleições, iam pra casa de Luiz de Sales, que era uma casa muito grande, com muitos quartos de hóspedes. Tinha também, embaixo do assoalho da casa, dois quartos bem grandes, um de guardar milho em palha, e o outro era para os viajantes guardarem os arreios dos animais.

 

Dali, eles seguiam para o Alto-Carangola, onde tinha a Pensão de Dona Mariquinha Meireles. Mas, nesse intervalo, que eles ficavam no Arraial do Choro, que era conhecido também por Arraial de Santo Antônio do Arrozal, eles visitavam Fazendas, ali perto, como a do Capitão Francisco Victor da Silva, que era conhecido como Chico Victor, a Fazenda do José Vianna, outro grande fazendeiro do lugar, e outros mais. Era assim a política daquele tempo.  

Um comentário:

  1. Extraordinário!
    Parabéns por partilhar esta extraordinária história no seu blog.
    Cumprimentos e um abraço cá do Algarve.
    http://umraiodeluzefezseluz.blogspot.com

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