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sexta-feira, 15 de março de 2013

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: VOLTANDO À FAMÍLIA PATERNA SOUZA MOREIRA



A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: VOLTANDO À FAMÍLIA PATERNA SOUZA MOREIRA


ANTÔNIO DE SOUSA COSTA


 
 
 


Voltando à família Souza Moreira. Quase no final do século XIX, quando meu avô José Antônio de Souza Moreira deixou Laranjal e foi morar em Divino de Carangola, Zona da Mata, em Minas Gerais, o tio Zeca Moreira, que era casado com Maria Dussanto, irmã de meu avô Souza, também se mudou para a Zona da Mata. Tio Zeca Moreira comprou uma Fazenda pouco acima de Divino de Carangola, juntamente com tia Dussanto, como era chamada pelo meu pai. Levaram também a minha avó-bis Severina, que era a mãe de tia Dussanto. Eu tenho algumas recordações de como era a minha avó-bis.

 

Meu pai Zeca de Souza comprou dois carros de milho em palha de tio Zeca Moreira. No dia em que foram buscar o milho, eu pedi a meu pai para ir também. Embora eu fosse um menino, bem criança, podia ter cinco ou seis anos de idade, meu pai consentiu que eu fosse. Os carreiros eram dois irmãos, Juca Schetine e Agripino Schetine, e meu pai e eu fomos dentro do carro. Assim que chegamos na Fazenda do tio Zeca Moreira, meu pai, os carreiros e os filhos de tio Zeca foram apanhar o milho na roça. Eu fiquei em casa, porque era ainda muito pequeno para andar em mato. Aí, eu fiquei conhecendo a mãe de meu avô, que meu pai sempre falava nela, a vovó Severina.

 

Depois da morte de seu pai José de Souza Moreira, vovó Severina ainda viveu em companhia dos filhos, em Laranjal, mas, com quem ela se dava mais, era com a filha Dussanto. Quando o tio Zeca Moreira deixou Laranjal e veio morar em Divino do Carangola, vovó Severina veio com ele. Já com bastante idade, ela não gostava de ficar sem um serviço. Nos fundos da casa havia uma grande varanda, e ali era aonde vovó Severina trabalhava. O serviço dela era só fazer sabão. Havia uma fornalha feita de pedra e barro, um tacho de cobre assentado em cima da fornalha cheio de torresmo ou sebo de boi, um barreleiro cheio de cinza, com água pingando, adequada, que era para cortar a gordura do sabão, e vovó Severina tinha um tamborete de madeira, onde ela ficava sentada, mexendo o sabão até chegar ao ponto certo. Vovó Severina era baixinha, de olhos azuis, cabelos lisos já bem branquinhos, alegre, conversava muito. Fiquei muito tempo ao lado dela, apreciando como ela mexia o sabão.

 

Depois, eu fui até ao engenho de cana movido a água. Estava ali alguns dos filhos do tio Zeca Moreira, com os empregados, fabricando rapadura. Até hoje em dia tenho recordação, como as canas caianas (canas de Caiena) eram macias, para chupar o caldo. Era uma Fazenda de muita fartura.

 

Quando os dois carros chegaram cheios de milho em palha no terreiro da Fazenda, e os carreiros soltaram os bois, para descansarem e beber água, tio Zeca chamou meu pai e os carreiros para o almoço.

 

Tio Zeca Moreira estava naquele dia muito contente, conversando com meu pai e os dois moços carreiros, filhos de um grande amigo do tio Zeca Moreira. O pai desses moços, que foram fazer esse carreto para meu pai, chamava-se Jenuário Schetine, mas era conhecido por Jenuarinho. Jenuarinho era compadre de meu pai e muito amigo da família. Assim que os bois descansaram, os dois moços pegaram os bois, despediram-se, e voltamos com os carros, cantarolando estrada a fora.

 

Quando chegamos em frente à Fazenda de tio Bastião Pereira, tio de minha mãe, já estava anoitecendo. Naquela época, não havia estrada boa, eram subidas e descidas, cheias de curvas, atoleiros, pontes de madeira de paus roliços. Ao passar por cima de uma ponte, que cobria o rego d’água do moinho de tio Bastião Pereira, o carro do Juca, muito pesado, abalou a ponte, a ponte começou a desmanchar. O carro do Agripino vinha atrás e, quando chegou em cima da ponte, as madeiras roliças se juntaram na frente das rodas do carro de bois, e carro tombou, esparramando milho por todos os lados. Isto já era noite. Levantaram o carro, acertaram a esteira do carro, que, com o tombo, tinha sido arrancada do carro, com os fueiros, e começaram a carregar o milho pra dentro do carro.

 

Nesta hora, chegou um filho de tio Bastião Pereira, por nome João Pereira, o mais velho dos irmãos, e disse para meu pai: “– Ocês ainda não jantaram, devem estar com fome!” Meu pai disse ao João Pereira: “– Nós ainda não jantamos, mas nós vamos jantar em casa. Se ocê quiser dar comida ao meu menino, eu aceito”. Aí, João Pereira me levou até a casa dele e mandou a mulher, por nome Filomena, arranjar um prato de comida pra mim. A comida estava muito boa, mas a linguiça estava apimentada, e eu não gosto de pimenta, mas a fome era tanta que eu comi a comida toda, e, até hoje, relembro aquela comida tão boa.

 

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