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quarta-feira, 3 de abril de 2013

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: O CASAMENTO DE MEU IRMÃO OLAVO



A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: O CASAMENTO DE MEU IRMÃO OLAVO


ANTÔNIO DE SOUSA COSTA

 


 

Voltando à história de minha família Souza Costa. Em mil novecentos e vinte, o meu irmão mais velho, por nome Olavo de Souza Costa, casava-se com Luzia, uma neta de Antônio de Souza Moreira (o primo rico de meu avô paterno José Antônio de Souza Moreira).

 

Dona Francisca Lopes, mãe de Luzia, que tinha o apelido de dona Chiquinha, era viúva de Pedro de Souza Moreira. Foi uma bela festa o casamento de meu irmão Olavo, pois dona Chiquinha era fazendeira, e rica. Pois não havia muito tempo que Pedro de Souza Moreira tinha morrido e deixado uma bela Fazenda pra viúva e os filhos.

 

O casamento de meu irmão Olavo foi realizado na casa da noiva. O padre e o escrivão saíram do Divino de Carangola com uma comitiva de amigos de dona Chiquinha e de seus filhos em direção à fazenda de Dona Chiquinha.

 

Em casa de meu pai, antes da cerimônia do casamento, também houve uma festinha em homenagem aos noivos. Os convidados reuniram-se na casa de meu pai, que ofereceu um almoço para todos os que vieram, dali dos arredores, para fazer o acompanhamento dos noivos até a Fazenda de dona Chiquinha.

 

Recordo-me como foi o acompanhamento, apesar de minha pouca idade, pois na época eu tinha dez anos. A distância até à Fazenda de dona Chiquinha, não muito longe, era de apenas seis quilômetros para caminhar a pé.

 

Como meu irmão Olavo, já com vinte anos de idade, ainda trabalhava sob a responsabilidade de meu pai, meu pai comprou tudo o que foi preciso para o casamento.

 

Assim, nós descemos da Fazenda Cachoeira dos Pereiras, nosso lar, margeando o rio Carangola até à Fazenda de dona Chiquinha. Meu pai tinha comprado muito foguete, para festejar o casamento de seu filho mais velho, e entregou tudo ao tio Marcolino, que era fanático em soltar foguete. Nós ainda não tínhamos caminhado nem três quilômetros e tio Marcolino já estava soltando foguete. E, de lá da Fazenda de dona Chiquinha, correspondiam da mesma forma. Tio Marcolino soltava um foguete, de lá soltavam outro.

 

Abaixo da Fazenda de dona Chiquinha Lopes havia uma ponte para atravessar o rio Carangola. E passamos em frente à Fazenda, com o acompanhamento, uns gritando de um lado, outros gritando do outro lado do rio. E foguetes se encontrando no ar. Fizemos a volta pela ponte, e fomos, até chegar ao terreiro da Fazenda, com os foguetes se cruzando no ar. O padre e o escrivão já estavam esperando para a realização do casamento.

 

Após o término do casamento, os noivos receberam os cumprimentos dos convidados. Algumas mulheres e moças passavam sal na boca dos rapazes e moças e diziam: “– É pra ocê não aguar!” Era uma brincadeira de muita alegria.

 

Depois dessa brincadeira, foi servido o jantar. Uma grande mesa fincada no terreiro, com dez metros mais ou menos de comprimento por um metro e meio de largura. As serventes lotaram a mesa, de canto a canto, de saborosas comidas. E o povo, que não era pouca gente, comeu até se fartar.

 

Houve também o baile, que durou a noite toda, até o dia amanhecer. Dona Chiquinha Lopes já tinha três filhas e um filho casados, e, com o casamento de Luzia, ficaram sendo quatro filhas e um filho casados. Mas ainda tinha dois filhos, rapazes solteiros, e uma moça já na idade de se casar. E tinha também dois meninos de pouca idade, menores.

 

Com esta união, da família Souza Costa com a família Souza Moreira, formou-se uma grande consideração entre as duas famílias. Uma das minhas irmãs, por nome Malvina, começou um namoro com um dos filhos de dona Chiquinha, por nome Divino de Souza. Esse namoro de minha irmã, eu não sei o porquê, durou seis anos, até ser realizado o casamento. Mas, finalmente, realizou-se, pois Malvina já estava com dezoito anos e Divino com vinte e seis quando se casaram.

 

Meu pai fez uma grande festa para o casamento de Malvina com o Divino de Souza, tal e qual a que houve na Fazenda de dona Chiquinha Lopes, quando do casamento de Olavo com Luzia. Só que o casamento de Malvina não foi realizado em casa, mas sim na Igreja, em Divino de Carangola. O acompanhamento foi grandioso. Todos foram a cavalo.

 

Eu já estava com dezesseis anos de idade e tinha um cavalo muito bom, assim, fui um dos que acompanharam minha irmã Malvina até à Igreja. E fui eu que carreguei o baú com os vestimentos da noiva.

 

Naquela época, casava-se primeiramente no eclesiástico, depois é que se ia casar no civil. Saímos da Igreja e fomos para o Cartório, que era na Praça. Quando terminou o casamento no Cartório, fomos apanhar os animais para voltarmos para nossa casa, que, nesse dia, já estava repleta de gente, pois meu pai havia convidado toda a vizinhança, e todos compareceram em massa.

 

Meu cunhado Divino de Souza também tinha os seus convidados. A nossa casa encheu-se de gente, que não cabia dentro de casa. Na frente da casa tinha um grande terreiro, que ficou lotado de gente. Meu pai fez um gasto grande, de muita comida e doce. Todos comeram à vontade, e ainda sobrou tanto, principalmente, doce, que, quatro semanas depois, ainda tinha doce na dispensa de nossa casa, que até chegou a criar mofo dentro da lata.

 

Para todas as minhas irmãs que casaram, meu pai Zeca de Souza fez festa, mas, a festa do casamento de Malvina foi a maior de todas.

 

Os dois primeiros filhos de Malvina eram homens, e pela grande amizade entre mim e Divino de Souza, logo que nasceu o primeiro filho, pediram-me para eu escolher o nome do menino, o que fiz com o maior prazer. Logo veio o segundo e aconteceu a mesma coisa. Fui eu que escolhi o nome. E não ficou só nisso. Eu fui também o padrinho.

 

Depois que passamos a ser compadres, aumentou mais a nossa amizade. Dificilmente, eu passava duas semanas sem ir até a casa de compadre Divino e comadre Malvina. Aquela harmonia entre o casal deixava a todos sensibilizados. E, também, eles faziam tanto agrado a gente, que o domingo passava sem que se percebesse o dia passar, e, quando voltava para casa, já era noite.

 

Compadre Divino era também um bom barbeiro na roça. Tinha também uma grande freguesia de corte de cabelo. Era só aos sábados e domingos que ele cortava cabelo, e fazia também algumas barbas. Os outros cinco dias da semana, ele trabalhava na roça. Ele ainda tinha a herança deixada pelo pai Pedro de Souza Moreira, as terras aonde ele fazia as plantações de cereais.

 

A Fazenda, que Pedro de Souza Moreira deixou de herança para a esposa dona Chiquinha Lopes e os filhos, quase não tinha terreno baixo. Era um terreno de altos e baixos, sendo que embaixo passava o rio Carangola, e em cima era uma montanha. A Fazenda ficava abaixo da montanha e, para chegar até ao alto da montanha, tinha que subir muito. E, nessa montanha, havia uma solapa, espécie de um salão, que podia até esconder gente, se fosse preciso. Ali, debaixo da solapa, era seco, não nascia mato. E essa solapa na fazenda de dona Chiquinha foi o lugar onde aconteceu um caso interessante que quero contar.

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